Deolinda

Dona Deolinda,

Senhora de quase 80 anos,

Moradora do Estado de Minas.

Caminhava todos os dias,

Pela manhã já era rotina.

Até que um dia,

Em uma de tantas descidas,

Deolinda caiu!

Fraturou seu pé,

Precisou ser socorrida.

A fratura foi grave,

Necessitava e cirurgia.

Porém sem convênio,

No SUS entrou na fila.

Ó Deolinda, não chore,

Sei que já são 60 dias.

Mas o governo prometeu agilizar,

Quem sabe deixa logo esta fila?

Nada aconteceu,

Apenas entrou para lista,

Agora, Deolinda é estatística.

Não se calou nem se entregou.

Com dificuldades, foi a polícia dar parte.

Procurou o Ministério Público,

Foi a jornais, televisão e nada,

Prometeram entrevistas,

Porém "fila" não da notícia,

Não sai mídia.

Dia desses, ligou a televisão e viu Neymar,

Caído ao campo, se pós a chorar.

Triste coincidência, fratura igual.

Irá operar aqui em Minas,

Em um belo hospital.

Não pagará a cirurgia,

Quem sabe para operar lá,

Irá até ganhar.

Todo mundo em volta,

Rádio, televisão, jornais,

Quase todo o país a comentar.

Limitada da locomoção e a idade avançar,

Deolinda a cama, foi se entregar.

320 dias sem nada a mudar,

E esta Senhora deixou o mundo sem conseguir operar.

Na mídia não saiu nada,

Só uma nota a falar,

A nota de falecimento, seca, sem o real interesse em seu caso contar.

Quantas Deolindas estão pelo país a esperar?

Tantas pessoas, quase impossível de contar.

Não são famosos, não ao menos popular,

Morrem aguardando, terem a chance de um Neymar.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 06/03/2018
Reeditado em 06/03/2018
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