ANJOS SEM ASAS
As águas estão furiosas
Os dias estão afundando no crepúsculo da terra
Entranhas sulfurosas nas crostas de seu murmúrio
As lanternas do sol estão saburrosas
O desgosto pelo seu desgaste natural
São asas de anjos silenciosos na arrebatação
São santos excluídos de suas orações
As pessoas estão se deteriorando pela corrupção
E em erupção a terra mostra seus ombros
Nos escombros de suas feridas latentes
Expostas em erupções cutâneas...
A condução do mal está se aninhando
Dentro dos humanos corações
As pessoas estão querendo voar
Nas asas sombrias de suas ansiedades
As cidades viraram uma espécie de oeste urbano
Não sabemos contracenar com os tubarões
Que não podem ver sangramentos pequenos
Que logo querem nos devorar...
As feridas estão sangrando vidas
A materialidade artificial banaliza o ser
A morte virou negócio de fachada
O laço aperta no pescoço suicida
E o milagre da vida virou uma bíblia fechada...
Até quando senhor
As rédeas deixarás solta
Diante do mal galopante da dor
Onde estão os anjos e suas escoltas
Dando voltas por onde?
Em que amanhecer nublado se escondem?
Precisamos de uma lavagem geral
Não podemos apenas limpar o mal por cima
Não podemos sequer ir a uma catedral
Sem o medo do arsenal que eles possuem...
Deus não fuja de sua criação
A fluidez de sua magnitude é tudo
Rude somos nós que estamos nos endurecendo
Diante da banalização da morte
Não nos deixe nas boias flutuantes dos ateus
Que diante do tubarão só ele nela se cabe
Não nos corte as asas ocultas em nossos ventrículos
Há ainda uma saída possível para este teu homunculoide
Que só pode ser crível pelos olhos teus
Senhor tua palavra ainda é "air-bag"
Para evitarmos o caos do desastre de teu humano veículo
Que seria desviar de tua palavra como fazem os fariseus
Procurando por atalhos inexistentes dirigindo pela contramão
Os olhos faroletes de teus versículos
Que dissipa de nosso olhar a neblina pesada da escuridão...
Livra-nos senhor da funda água dos olhos indulgentes
Para que não morramos afogados pelo grotão
Que nos arrasta ante as enxurradas dos pecados da gente...