Sem ofensas, poeta
Por hoje,
vamos esquecer as metáforas.
Vamos falar de algo
sem contar sobre flores,
manhãs e montanhas.
Sem falar em penumbras,
oceanos e náufragos.
Por hoje,
e só por hoje,
poeta,
vamos falar sobre nós,
que andamos tão quietos
e corremos atrás de palavras.
Eu sei que você quer,
poeta,
alguém que leia
suas entrelinhas.
Pois então desista delas,
e vamos deixar disso
de fazer poesia.
No fundo sabemos
que as dúvidas serão as mesmas
e todo resto permanecerá.
Ainda assim escrevemos
a nossa maneira
prepotente, ingênua e fingida.
Para quê, poeta...
Para quê?
São só pilhas de frases,
nada disso dá respostas.
Versos vivem escondendo coisas.
Não servem para nada,
e metem perguntas em quem os lê.
Deixe disso de poesia,
minha cara poeta,
que isso não tem futuro,
não.
É coisa de boêmio boa vida,
de gente que sonha demais.
Poesia é coisa de gente triste.