Velho jeans

Aqui deste lugar privilegiado eu posso escutar

Se por um lado o contato de seu colo me envolvia

Traduzindo a primavera no desabrochar

De um sorriso em minha face

Por outro ouvia palavras escondidas aquelas

As que vivem atrás das batidas de seu coração

Ouço ainda

Não não diga

Já ouvi cada uma 80 vezes em cada único minuto

Por mais que as sombras me enlacem

Ainda assim mesmo que estranho

Percebo a mágica fluindo entre os orbitais

Vaga-lumes saltitando entre realidades

Não não fale alto

Mas também não fale baixo

Conheço cada tick cada sopro

Só não fale

Com olhar perdido buscando as janelas

Vitrais vivos que trazem a saudade

Percebo as nuvens

Competindo na direção do horizonte

Indo atrás das estações e me deixando aqui

Será que voltarão?

Agora as luzes da cidade agridem

Seus outdoors incandescentes

Intimando em convites disfarçados de prazer

Mas não é o meu sonho o que posso dizer

Ainda assim

Só queria voltar para casa

Estar vivo nunca foi suficiente

Só queria viver só queria te ver

Mas só agora consigo entender

Então eu deixo essas linhas

Sentidas talvez sem sentido com certeza

Algumas sobre as ondas

Outras entrego ao vento

E algumas guardo no bolso do velho jeans

Aquelas que não ouso escrever

Em algum momento

Quando as nuvens retornarem com as estações

Talvez consiga juntar os versos espalhados

Nesse dia quando mar e vento chegarem juntos

Trazendo o que foi perdido

Nesse dia apenas

Quem sabe eu escreverei uma poesia de verdade

Que saibamos aproveitar cada oportunidade

Uma a uma nas quais Deus nos abençoa todos os dias

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