Veludo
Eu te odeio
Da profundeza de todas
As minhas entranhas mais sinceras.
Você é como um verme mesquinho
E desprezível,
Que habita nas periferias
Das memórias que eu deletei.
Seu gosto é invisível
E ruim,
Sua existência, não me permito
Dizer.
Eu me lembro de arder
E continuar a queimar
Na mais impetuosa das tempestades.
O coração era pau mandado
Da ansiedade delícia
Que me consumia
Quando já não mais era só eu.
Violetas não são roxas
E eu não sou Romeu.
Você era o mais belo
Dos palavrões que um dia eu falei.
Hoje eu odeio xingar,
Mas um dia já gostei.
Em lábios carnudos
O veneno demora mais
A escorrer.
Talvez por isso
Eu ainda esteja vivo.
Me serviu como luvas rubras de veludo.
Do meu processo criativo,
Fostes o final,
Da beleza parnasiana
Que eu levava em mim mesmo,
Restaram apenas sinais.
Você morava no meu fone de ouvido
E eu ainda sou uma playlist antiga
De 2007.
Bicho raro
Dos olhos cor de mel,
Sensível e notável
Como o amargo é do fel,
Hoje eu corro livre
Porque um dia te enterrei
E mandei pro inferno
A chave do cemitério.
Desejo uma eternidade de dor
No fogo aquecido sete vezes mais
E quem sabe assim, talvez,
Você sinta um pouquinho efêmero
Da dor sutil que me fez engolir por goela á baixo.