Veludo

Eu te odeio

Da profundeza de todas

As minhas entranhas mais sinceras.

Você é como um verme mesquinho

E desprezível,

Que habita nas periferias

Das memórias que eu deletei.

Seu gosto é invisível

E ruim,

Sua existência, não me permito

Dizer.

Eu me lembro de arder

E continuar a queimar

Na mais impetuosa das tempestades.

O coração era pau mandado

Da ansiedade delícia

Que me consumia

Quando já não mais era só eu.

Violetas não são roxas

E eu não sou Romeu.

Você era o mais belo

Dos palavrões que um dia eu falei.

Hoje eu odeio xingar,

Mas um dia já gostei.

Em lábios carnudos

O veneno demora mais

A escorrer.

Talvez por isso

Eu ainda esteja vivo.

Me serviu como luvas rubras de veludo.

Do meu processo criativo,

Fostes o final,

Da beleza parnasiana

Que eu levava em mim mesmo,

Restaram apenas sinais.

Você morava no meu fone de ouvido

E eu ainda sou uma playlist antiga

De 2007.

Bicho raro

Dos olhos cor de mel,

Sensível e notável

Como o amargo é do fel,

Hoje eu corro livre

Porque um dia te enterrei

E mandei pro inferno

A chave do cemitério.

Desejo uma eternidade de dor

No fogo aquecido sete vezes mais

E quem sabe assim, talvez,

Você sinta um pouquinho efêmero

Da dor sutil que me fez engolir por goela á baixo.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 28/02/2018
Código do texto: T6267068
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