Aniversariante

Vai aniversariante.

Dê um suspiro longo

Com os pulmões que você

Estragou com decepções

E assopre com força

As vinte e uma

Velinhas

Que são suas derrotas

Por dias, até agora.

A faísca encima de

Cada uma delas

São os erros que

Você deixou de acertar.

O bolo é a expectativa dos seus pais

Que um filho perfeito não

Puderam ganhar.

Bem na sua frente

Tem uma mesa bem grande

De docinhos e sobremesas.

Qual é mesmo o sabor deles?

Os que parecem ser de chocolate,

São das fraquezas que

Você esconde de si próprio.

Os que parecem ser de coco

São do vício nada adocicado

Que você julga

Extirpar a razão

Egoísta da sua existência

Sem sentido.

Os convidados que te olham

Aparentemente alegres,

Sabem que nem mesmo a maior

Caixa de presente do mundo

É capaz de tapar o vazio

Que você esconde

Entre os balões coloridos.

Você gosta de cor, aniversariante?

Talvez seja pra contrastar

Com sua essência cinzenta

E sem graça.

Eu te daria um presente,

Mas o laço da embalagem

Entrou em autocombustão

Quando soube que ele seria

Entregue a você.

Não me leve a mal

Por favor,

Tentei celebrar

Com calor.

Vá abrir os presentes, menino!

Rasgue o papel

Do mesmo jeito que você

Rasgou todos os sonhos

Que nunca alcançou.

Abra o saquinho e vista

A camiseta azul que é nova,

Talvez assim você se torne

Um pouquinho menos difícil

De notar.

A letra da canção

Que toca na sua festa, eu conheço.

É uma que você escreveu

Quando tentou se enforcar no porão.

É tão inútil

Que a única coisa que ganhou

Foi no pescoço, um roxão.

Mas quem sou eu pra

Falar de hematomas

Quando na verdade

Quem gosta de se machucar

É você.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 28/02/2018
Código do texto: T6267067
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