21
Essa noite eu quero escrever até sangrar.
Um conta-gotas inundado,
Cheio de morfina rara,
Cometas apagados
E um caboclo amargurado.
Que minhas lágrimas desfilem
Usando Chanel.
Uma tristeza bem chique, quem sabe.
Com razões desconhecidas,
De marca.
Eu sou uma mentira
De pernas amputadas.
Um violão desafinado e órfão
Que matou os próprios pais.
Meus dedos são gatilhos
Que me tornam mais vivo
Na medida em que
Afastam-me da vida.
Vivida, roubada, escrita.
Sou um vinho amargo,
Tequila estragada.
Sem mencionar a intolerância ao álcool.
Um coração que bate pesado
Tropeça no terno marrom do tédio
E esquece-se de todas
As últimas noites
Em algum lugar
Daquele vinte e um de abril.
Engasguei com palavras não ditas
A saliva é meu ego quebrado
E a garganta representa o que não sou.
Me afogo nas imperfeições
Que reinam no reino interior.
Saudade doída, perfume sem cor,
Não, humano, nunca disse que sou.
No final de cada fim
Existe um final.
E eu moro na rua contramão da partida,
Guardo beijos bem quistos
Suspiro doloso
E um mistério que repercute
Em meu âmago derrete
Apenas dor, e não mais se discute.