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Essa noite eu quero escrever até sangrar.

Um conta-gotas inundado,

Cheio de morfina rara,

Cometas apagados

E um caboclo amargurado.

Que minhas lágrimas desfilem

Usando Chanel.

Uma tristeza bem chique, quem sabe.

Com razões desconhecidas,

De marca.

Eu sou uma mentira

De pernas amputadas.

Um violão desafinado e órfão

Que matou os próprios pais.

Meus dedos são gatilhos

Que me tornam mais vivo

Na medida em que

Afastam-me da vida.

Vivida, roubada, escrita.

Sou um vinho amargo,

Tequila estragada.

Sem mencionar a intolerância ao álcool.

Um coração que bate pesado

Tropeça no terno marrom do tédio

E esquece-se de todas

As últimas noites

Em algum lugar

Daquele vinte e um de abril.

Engasguei com palavras não ditas

A saliva é meu ego quebrado

E a garganta representa o que não sou.

Me afogo nas imperfeições

Que reinam no reino interior.

Saudade doída, perfume sem cor,

Não, humano, nunca disse que sou.

No final de cada fim

Existe um final.

E eu moro na rua contramão da partida,

Guardo beijos bem quistos

Suspiro doloso

E um mistério que repercute

Em meu âmago derrete

Apenas dor, e não mais se discute.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 28/02/2018
Código do texto: T6267060
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