Que tiro foi esse?
Que tiro foi esse, companheiro
Que, vindo do nada,
Deixou na calçada
E nos colégios não só do Rio de Janeiro
Mas do meu, do seu, do nosso Brasil inteiro
Caído mais um pai, uma mãe ou uma criança
Mutilando a paz, destruindo a esperança
Do povo brasileiro
Com essa chuva de tiros
Em que o que escorre é o sangue
Saciando quadrilhas e satisfazendo gangues
Tomando do próximo o último suspiro?
Que tiro foi esse, meu amigo
Que cegou a população
Para o roubo e pra corrupção
Que a faz pensar apenas no próprio umbigo
E se esquecer daquilo que realmente importa?
Quanto mais a gente suporta
Viver em meio a tanto perigo
E fazer vista grossa à verdade
Distorcendo os fatos
Deturpando os vários atos
Que deterioram a nossa realidade?
Que tiro foi esse, meu irmão
Que maquiou a miséria e escondeu a fome
Que tomou dos brasileiros tudo, inclusive o nome?
Será que ninguém vê essa nova forma de escravidão
Da internet, do rádio e da mídia televisiva
Das manchetes nos jornais e da sociedade abusiva
Que mata os homens aos poucos
Sem dó nem piedade
Que nos sequestra a verdade
E nos chama de loucos
Se não sobrevivemos da maldade?
Que tiro foi esse, meu senhor
Que se aproveita de mim e abusa de você
Que faz todo o povo sangrar, toda a nação sofrer
Sem misericórdia e sem pudor
Que assola milhões e destrói famílias
Que assombra nossas noites e perturba nossos dias?
Me diga, por favor
Será que vale a pena
Viver com essa mente tão fechada e tão pequena
Que se alimenta do medo e não do amor?
Então lhe peço que me diga
Que tiro foi esse, minha amiga?
Que tiro foi esse, meu senhor?