Anjo
(homenagem ao mestre eterno Augusto dos anjos)
Numa tenebrosa noite de tempestade
Bateu-me à porta um anjo-poeta
Dizendo sentir saudade
Desta prisão perpétua
Tinha o rosto marcado pela atrocidade
Dos vermes que lhe roeram a paixão secreta
De viver, neste antro de maldade,
Viver, na solidão mais completa.
Contive o pavor, o medo, o susto!
Na figura esquálida, se decompondo
Mal reconheci o augusto
Fazia frio, não atendi ao hediondo,
E ele, amaldiçoou-me a viver compondo
Nesta perfeita confusão neuronial
- Tua sina será a angústia suprema,
Contorcendo-se em dores, hás de sangrar poemas,
Como um insano e venéreo animal...