Anjo

(homenagem ao mestre eterno Augusto dos anjos)

Numa tenebrosa noite de tempestade

Bateu-me à porta um anjo-poeta

Dizendo sentir saudade

Desta prisão perpétua

Tinha o rosto marcado pela atrocidade

Dos vermes que lhe roeram a paixão secreta

De viver, neste antro de maldade,

Viver, na solidão mais completa.

Contive o pavor, o medo, o susto!

Na figura esquálida, se decompondo

Mal reconheci o augusto

Fazia frio, não atendi ao hediondo,

E ele, amaldiçoou-me a viver compondo

Nesta perfeita confusão neuronial

- Tua sina será a angústia suprema,

Contorcendo-se em dores, hás de sangrar poemas,

Como um insano e venéreo animal...

Edmundo Pacheco
Enviado por Edmundo Pacheco em 27/08/2007
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