SÚPLICAS DE UM VAQUEIRO

Seu dotô, comprei fiado,
pois tava tudo apertado,
num tive outra saida,
trocava inté a vida,
e nunca meu cavalo,
meu instrumento de trabaio,
tanjo gado, sou vaquêro
de alugué prá fazendêro.
Meu cavalo é o meu guia,
é o meu pão de cada dia,
juro pro nossa senhora,
não sei que diabo é penhora,
que inventaram pro meu alazão,
coisa boa deve ser não,
se for coisa de apartar,
do meu cavalo de montar,
do meu fié companhêro,
do único amigo verdadêro,
será um crime, seu dotô.
Prum homem só é muita dor,
é como tirar a visão,
apunhalar no coração,
quebrar as pernas, alejar,
surrar, bater, castigar.
Tem coisa que não se aparta,
é como as letra da carta
o chucaio do badalo,
e o vaquêro do cavalo.
Seu dotô, tô improrando,
veja meus óios chorando,
pelas cinco chaga de Cristo,
me ajoeio, improro, insisto,
pros seus sentimento cristão,
não leve embora meu alazão.

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Livro: Reversos (1993)