SUCO DA MASSA

Pateticamente, estou só
perdido, espremido,
sou suco da massa.
Transeuntes desconexos,
apressados,
gente sem tempo,
sem afeto, sem papo.
Solidão de quem não está só:
deprimente, fatigante, angustiante,
solidão de todos os dias,
diurnamente, rotineiramente,
ultrapasso milhões de pessoas,
lábios estáticos, sorrisos embutidos,
apertos de mãos amputadas.
Sou partícula da massa muda,
nas ruas centrais da cidade,
onde me infiltro,
sentimentalmente filtrado,
na solidão irreversível
de quem não está só.

Livro: Reversos
Editora CEPE (1993)






 

Benedito Morais de Carvalho (benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (benê) em 24/02/2018
Reeditado em 20/04/2022
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