COMO SURGEM AS HISTÓRIAS

O autor, romancista contista ou poeta,

vai colhendo impressões de tudo que o cerca

e quase sem querer

porque levita entre a benção e a maldição

absorve da realidade

os sons, as reações das pessoas, os sabores,

expressões de um rosto de desconhecido,

o choro de uma criança, o olhar de um velho,

o brilho das estrelas, a ausência da lua,

flores,

chuva,

sequidão

e até a opinião de outras pessoas.

Essas coisas colam primeiro na retina

do autor, romancista contista ou poeta,

depois repicam nos seus tímpanos,

escorrem por dentro para suar salgado na pele

grudam sem paz para depois descer

até um órgão que a ciência ainda não descreveu.

Esse órgão é um pedaço de tecido esponjoso

que fica perto mas oculto do coração,

ali misturadas as impressões sedimentam

uma só imagem como se fosse montagem de filme.

Sem saber muito bem como isso acontece,

o autor, romancista contista ou poeta,

escreve deixando entrever nas voltas do retorcido

o coração da narrativa.

Assim uma história feita de fios invisíveis surge,

de um quase entrelaçado a outro sobreposto ao demolido.

Do que veio habitar o retorcido espírito, surge,

o que não haveria se não houvesse leitura.

E assim se conta como surge uma história,

desencobrindo e devolvendo ao Mistério

de minérios liquefeito

o mistério que nenhuma palavra explica.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 24/02/2018
Reeditado em 24/02/2018
Código do texto: T6262871
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