Interestelar

O respirar é lento, quase chega a cessar.

Carregar sob os ombros encurvados

O peso nada sutil das escolhas despidas,

Eruditas e rompidas.

Despidas da vida que um dia foi sem fim,

De dias que duraram para sempre.

Finais de tarde no espaço sideral.

Ou pegar carona nas asas de

Um querubim radical.

Partir nada mais é que

Retornar à porção brilhosa e sempiterna

Que antecedeu à materialização

Do humano que em mim dizem morar.

Agora e aqui,

Eu não sou mais refém do coronel tempo,

Aposto corrida com o mais veloz dos cometas.

E meu hobbie é danificar satélites.

Jogo sinuca com meteoritos rebeldes

E minha translação leva muito mais que um ano.

A imensidão é um vestido azul empoeirado

Que guardo esquecido no porão.

Tem uma galáxia exibida e brilhante no meu quintal

E dá um frio na barriga saber

Que nunca mais vou morrer.

Ontem mesmo eu encontrei um astronauta

Morto no espaço,

Coloquei ele de enfeite na minha sala.

Nas quartas á noite eu vou patinar na lua.

Meus amigos só são meus por um dia,

Por aqui só se tem o mesmo rosto durante vinte e quatro horas.

Mas eu consigo encontrar quem quiser.

A Terra dos vivos eu avisto de longe,

Cercados pelo céu que eles mesmos destruíram

E pela sujeita que dança balé com a atmosfera.

Não me lembro dos amores que tive quando era vivo,

Aqui o amor é algo maior,

Em palavras terrenas não é possível descrevê-lo.

O para sempre é meu chinelo,

E aqui não se pode morrer,

Embora, mesmo que possível, eu não gostaria de fazêlo.

Eu queria te mostrar

Minha coleção de estrelas,

Mas eu me tornei

Uma delas.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 22/02/2018
Reeditado em 22/02/2018
Código do texto: T6261400
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