Interestelar
O respirar é lento, quase chega a cessar.
Carregar sob os ombros encurvados
O peso nada sutil das escolhas despidas,
Eruditas e rompidas.
Despidas da vida que um dia foi sem fim,
De dias que duraram para sempre.
Finais de tarde no espaço sideral.
Ou pegar carona nas asas de
Um querubim radical.
Partir nada mais é que
Retornar à porção brilhosa e sempiterna
Que antecedeu à materialização
Do humano que em mim dizem morar.
Agora e aqui,
Eu não sou mais refém do coronel tempo,
Aposto corrida com o mais veloz dos cometas.
E meu hobbie é danificar satélites.
Jogo sinuca com meteoritos rebeldes
E minha translação leva muito mais que um ano.
A imensidão é um vestido azul empoeirado
Que guardo esquecido no porão.
Tem uma galáxia exibida e brilhante no meu quintal
E dá um frio na barriga saber
Que nunca mais vou morrer.
Ontem mesmo eu encontrei um astronauta
Morto no espaço,
Coloquei ele de enfeite na minha sala.
Nas quartas á noite eu vou patinar na lua.
Meus amigos só são meus por um dia,
Por aqui só se tem o mesmo rosto durante vinte e quatro horas.
Mas eu consigo encontrar quem quiser.
A Terra dos vivos eu avisto de longe,
Cercados pelo céu que eles mesmos destruíram
E pela sujeita que dança balé com a atmosfera.
Não me lembro dos amores que tive quando era vivo,
Aqui o amor é algo maior,
Em palavras terrenas não é possível descrevê-lo.
O para sempre é meu chinelo,
E aqui não se pode morrer,
Embora, mesmo que possível, eu não gostaria de fazêlo.
Eu queria te mostrar
Minha coleção de estrelas,
Mas eu me tornei
Uma delas.