Marlboro
Em uma tarde chuvosa de domingo
Eu dançava sozinho em um salão
As cortinas esvoaçantes eram minhas lembranças
E meus passos, a angústia.
Eu sou um sorriso esquecido
Na penumbra e uma saudade nunca sentida.
Rasgo minhas vestes feitas de
Fragmentos egoístas de partes
Mortas de mim mesmo
E me visto de uma tristeza
Púrpura e discreta.
As lascas penetram na carne,
Arrancam um pouquinho do pouco de mim.
Dor que me enfeita
Enaltece e encobre.
Enquanto muitos procuram
Um pleno sentido pro viver,
Eu apenas caminho. Sozinho.
Acendo velas tristonhas
No funeral importado
Daquilo que desisti de entender.
Fugir por brumas uivantes
Ou cantar sozinho em um coral desacordado,
Aquáticos que nadam
Naquilo que transborda
De dentro de mim.
Eu te mostraria onde é a rua
Sem saída,
Só que meus olhos desaprenderam
A sorrir.
Eu vivo na margem,
Ou da destruição do que existe de mais belo,
Proibido, vitupério.
Abraço,
Braços,
Abrigo inundado.
A pouca idade confere
Uma inocência entardecida e de partida.
A ignorância é ocultada
Por tudo aquilo que é passível
De admiração.
Os detalhes são reflexos,
Peças que se desintegram
Constantemente.
Às vezes me pergunto
Se o antídoto mata mais que a doença,
Já que os morros não mais
Dançam ao som do vento
Como antes.
E a cura pro câncer é
Morrer de tristeza.
Uma antítese ambulante
Que anda chorando
No piso frio de um corredor
Que nunca chegou a surgir.
Quando não posso lidar com
Aquilo que não se pode evitar,
Eu apenas me junto a ele.
O abraço,
E ele tem braços quentes
E um tronco ofuscado
Pela imensidão das estrelas
Que habitam entre minhas costelas.
A morte me ligou hoje de manhã,
E eu paquerei ela.
Mas foi sem querer.
Eu juro.
A morte tentou me beijar,
Que me pediu um cigarro,
Que desabou a chorar
Quando eu disse
Que nicotina pra mim é fermento.
A janela da minha sala
É pequena.
O céu escuro é só um esboço
De um peito calado,
Saudoso e cinzento.