Lamaceiro

Vaza barril,

Barril vaza,

Tortuoso, o velho traz vida,

Rega o chão e risca a terra seca,

Serpenteando as ossaturas do solo.

Nasce vigoroso, cheio de si,

Acredita ser imortal e se lança a regar a paisagem seca:

Não sabe ele que só o caboclo vive ali,

Até as folhas desornaram-se

E, por necessidade, vestiram os belicosos espinhos.

Vaza barril,

Barril vaza,

Umidifica que assim será cantado em verso e prosa,

Verdeia a ocre cor seca da paisagem,

Entrega alimentos aos seus

Batiza meninos e goza.

Vaza barril,

Barril vaza,

Ao trazer a vida, o rio vai, aos poucos, esmorecendo-se:

Deixa de si um pouco aqui e outro, acolá.

Na verdade, nem desconfia que já nascera moribundo.

Ao morrer, assim completa sua missão, espraia a vida com odor fúnebre pelo sertão.