AMANHECI SEM MIM

Amanheci trevas, num desespero

Olhar negro ao longe, oco, vazio

Na boca dores em destempero

O sol na janela bateu úmido e frio

Sem vida, nem cor, nem tempero

Como o mar sem tato com o rio

Coisa nenhuma para mim espero

Calor, multidão, sabores em calafrio

Ou encontro comigo, a plebe e o clero

Amanheci reflexo de um fantasma

Sem esperança, nem crença, por fim

Sem célula, núcleo, apenas citoplasma

Amanheci sem mim.

(All Xavier)

Amanheci também,

procurando em diários guardados,

versos esquecidos,

gavetas de papeis coloridos,

rascunhos de cartas não enviadas,

uma identidade que pudesse ser minha referência,

minha essência,

mas encontrei apenas passado;

o futuro inexiste e o presente é só silêncio,

preciso reencontrar-me ou reinventar-me,

meu grito é emudecedor,

minha alma está coberta com um véu,

hoje,

amanheci colinas cobertas de gelo!

(Eloísa Silva)

All Xavier
Enviado por All Xavier em 20/02/2018
Reeditado em 20/02/2018
Código do texto: T6259155
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.