AMANHECI SEM MIM
Amanheci trevas, num desespero
Olhar negro ao longe, oco, vazio
Na boca dores em destempero
O sol na janela bateu úmido e frio
Sem vida, nem cor, nem tempero
Como o mar sem tato com o rio
Coisa nenhuma para mim espero
Calor, multidão, sabores em calafrio
Ou encontro comigo, a plebe e o clero
Amanheci reflexo de um fantasma
Sem esperança, nem crença, por fim
Sem célula, núcleo, apenas citoplasma
Amanheci sem mim.
(All Xavier)
Amanheci também,
procurando em diários guardados,
versos esquecidos,
gavetas de papeis coloridos,
rascunhos de cartas não enviadas,
uma identidade que pudesse ser minha referência,
minha essência,
mas encontrei apenas passado;
o futuro inexiste e o presente é só silêncio,
preciso reencontrar-me ou reinventar-me,
meu grito é emudecedor,
minha alma está coberta com um véu,
hoje,
amanheci colinas cobertas de gelo!
(Eloísa Silva)