POSTO DE (não) OBSERVAÇÃO

Fui correndo para o meu posto de não observação

Juntos escutamos uma ave de mau agouro

que voava perto de uma tempestade de ilusões

Reparti-me na coesão de dois hinos célebres

e deverias me banhar com a inquietude de um sorriso

impreciso, digo audaz

Refaz em mim o futuro dispersado pelo passado

ousado sonho mordaz

Me fiz inteiro mas me perdi

entendi que sou em partes

Me dividi e enxerguei por inteiro

subi em um outeiro

observei, incrédulo, o movimento metafísico do mar

seu ar apaixonado encontra-se

cansado ou desiludido

Saí crente em ter visto, para além da chuva que cai,

uma sombra quase conhecida

esquecida atrás d’uma neblina chamada Tempo!

As mensagens continuam a chegar

e daqui de meu posto percebo

as mensagens que continuam a chegar

Discordo freqüentemente de hábitos alienados e impostos

algumas palavras exatas e inexatas me trazem novamente

à realidade

palavras dão-me a sensação incólume de estar puramente vivo

convivo com suas lembranças inexistentes

e não me esqueço que arrancastes de mim

um sorriso uma lágrima e um sorriso

Meu relógio anda desigual

da freqüente chuva que freqüenta meus cabelos

sinto deixar passar um pequeno vazio imenso

enquanto minha luta diária está vazia, esvaziada de sentidos sinceros

Estou em meu posto de não-observação

Uma parte da parte que sou está sempre vigiando atenta

de meu posto de observação

você ainda sorri e encanta

soma a cartas hipóteses (in)alteradas

e impõe funções à uma parte da parte

do poeta inespecífico e fragmentado,

que por força de observações e emoções e observações,

se despertou

27/01/2004