Sutil derrocada

Intrépida solidão que marital me toma nos braços

E acaricia e pega a mão

E beija a boca e acalenta com doçura

Assim repentino sopra o vento

E me destrói a face e o corpo

Devora-me os miolos e deglute embebida em vinho tinto minh'alma.

Depois cospe fezes d'onde nasce a flor rubra e pálida que dá-me a enfeitar o rosto faminto.

Tece a solidão macio leito onde repouso

Onde recobro a vida que se esvazia de vida em viver só

E fecundo rios salubres, azuis e efêmeros na sutil eternidade da existência

N'onde finco meu impassível desterro

E feneço em subalterno silêncio manso.

Desnuda ao meu virgo olhar o universo

Em sua crueza e frialdade estúpida e alvar

Miserável de toda a beleza assente n'ignorância

E cala do meu peito o derradeiro grito de socorro e salvação:

Torna-me servo de toda a demasia de sentires que pela eternidade aprisiona no parco e tácito cerne de meu espírito.

Presenteia com vestes de gala os d'antes ignotos fantasmas que habitam

O mesmo salão onde reside minh'alma

E enriquece meus braços com espadas para que possa sem prévia maestria exterminá-los

E adita meu tépido colo de gratuito amor para que tome-os a meu peito a niná-los.

Torna-me colosso, a solidão

De grandeza párea a toda a extensão imponderável do Existir.

E golpeia-me ferozmente dilacerando toda a carne e o éter

Dissolve-me.

Faz-me desvalida arrancar-me o tegumento e conceber em plena consciência tudo o que sou:

Nada.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 19/02/2018
Código do texto: T6258781
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