Sutil derrocada
Intrépida solidão que marital me toma nos braços
E acaricia e pega a mão
E beija a boca e acalenta com doçura
Assim repentino sopra o vento
E me destrói a face e o corpo
Devora-me os miolos e deglute embebida em vinho tinto minh'alma.
Depois cospe fezes d'onde nasce a flor rubra e pálida que dá-me a enfeitar o rosto faminto.
Tece a solidão macio leito onde repouso
Onde recobro a vida que se esvazia de vida em viver só
E fecundo rios salubres, azuis e efêmeros na sutil eternidade da existência
N'onde finco meu impassível desterro
E feneço em subalterno silêncio manso.
Desnuda ao meu virgo olhar o universo
Em sua crueza e frialdade estúpida e alvar
Miserável de toda a beleza assente n'ignorância
E cala do meu peito o derradeiro grito de socorro e salvação:
Torna-me servo de toda a demasia de sentires que pela eternidade aprisiona no parco e tácito cerne de meu espírito.
Presenteia com vestes de gala os d'antes ignotos fantasmas que habitam
O mesmo salão onde reside minh'alma
E enriquece meus braços com espadas para que possa sem prévia maestria exterminá-los
E adita meu tépido colo de gratuito amor para que tome-os a meu peito a niná-los.
Torna-me colosso, a solidão
De grandeza párea a toda a extensão imponderável do Existir.
E golpeia-me ferozmente dilacerando toda a carne e o éter
Dissolve-me.
Faz-me desvalida arrancar-me o tegumento e conceber em plena consciência tudo o que sou:
Nada.