Homízio
Eu sou o vazio entre o agora e o talvez.
A lacuna desconhecida
Daquilo que se espera existir.
Um arquétipo frio e bordado
Com rendas de utopia.
Um manequim sem movimento alheio
Que acompanha a sincronia sorrateira
Das lágrimas que nunca caíram.
O calor de um suspiro em Celsius,
Na madrugada.
Respiro o doce delírio do por do sol,
Desfaleço com os quase raios
Perdendo-se no horizonte.
E o perfume do vento em um cachecol.
Eu sou aquele que circula
Entre o existir
E a impetuosa dor da existência.
Aquele que contempla as rimas desafinadas
De uma caneta incompreendida.
Sou aquele que chora
Pela ausência daquilo que reside em mim.
Contemplar o próprio ser apenas faz sentido
Quando o peso opróbrio daquilo que não se conhece
Esmaga o que restou dos meus ombros.
A morte é amante dissimulada da dor,
Delas recebo doses intravenosas.
Que atrelam-se ás minhas hemácias
Sorrateiras, fugazes e mimosas.
Apenas contemplo minha própria forma,
E o faço através de olhos que a observam
Supostamente genuína na essência dos quais não sou.
Eu sou um recipiente
Sem fundo,
Quanto mais se tenta encher,
Menos cheio
O vazio se torna.
O viver ocorre nas cordas
E melodias vizinhas,
Que desafinam ao toque decepcionante
Dos meus dedos.