Homízio

Eu sou o vazio entre o agora e o talvez.

A lacuna desconhecida

Daquilo que se espera existir.

Um arquétipo frio e bordado

Com rendas de utopia.

Um manequim sem movimento alheio

Que acompanha a sincronia sorrateira

Das lágrimas que nunca caíram.

O calor de um suspiro em Celsius,

Na madrugada.

Respiro o doce delírio do por do sol,

Desfaleço com os quase raios

Perdendo-se no horizonte.

E o perfume do vento em um cachecol.

Eu sou aquele que circula

Entre o existir

E a impetuosa dor da existência.

Aquele que contempla as rimas desafinadas

De uma caneta incompreendida.

Sou aquele que chora

Pela ausência daquilo que reside em mim.

Contemplar o próprio ser apenas faz sentido

Quando o peso opróbrio daquilo que não se conhece

Esmaga o que restou dos meus ombros.

A morte é amante dissimulada da dor,

Delas recebo doses intravenosas.

Que atrelam-se ás minhas hemácias

Sorrateiras, fugazes e mimosas.

Apenas contemplo minha própria forma,

E o faço através de olhos que a observam

Supostamente genuína na essência dos quais não sou.

Eu sou um recipiente

Sem fundo,

Quanto mais se tenta encher,

Menos cheio

O vazio se torna.

O viver ocorre nas cordas

E melodias vizinhas,

Que desafinam ao toque decepcionante

Dos meus dedos.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 16/02/2018
Reeditado em 16/02/2018
Código do texto: T6255840
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