Fleumático
Eu sou a versão mais decepcionante de mim mesmo.
Guardo em mim, erros como troféus.
Uso meus tropeços como anéis
E até minha coroa possui
Pedras legítimas de fracassos em quilates.
A imperfeição não leva ao que é perfeito.
As tentativas apenas lapidam o saber.
Se um dia o tornarão jóia, de fato,
Eu não sei,
Talvez simplesmente
Não me caiba entender.
Cada minuto tem o poder de uma lâmina.
Os segundos são agulhas sintéticas
Que ferem sem pudor a superfície
Calada de um coração xadrez.
O amanhã parece amargo, longínquo
E tão perto,
Nada passível de compreensão.
O ontem eu desejo estar, o agora me faz ter medo.
Peno por um miocárdio esfolado
E almejo uma segunda dose de lembranças açucaradas.
Faço das mágoas, minhas terceiras mãos
Um sistema linfático externo,
Que me devora o orgulho, brota-me mais uma perna
E me arremeça de novo ao chão.
Pode se matar por mais de uma maneira,
E a melhor de todas elas é a que é feita de dentro pra fora
E não envolve cadeia.