Fleumático

Eu sou a versão mais decepcionante de mim mesmo.

Guardo em mim, erros como troféus.

Uso meus tropeços como anéis

E até minha coroa possui

Pedras legítimas de fracassos em quilates.

A imperfeição não leva ao que é perfeito.

As tentativas apenas lapidam o saber.

Se um dia o tornarão jóia, de fato,

Eu não sei,

Talvez simplesmente

Não me caiba entender.

Cada minuto tem o poder de uma lâmina.

Os segundos são agulhas sintéticas

Que ferem sem pudor a superfície

Calada de um coração xadrez.

O amanhã parece amargo, longínquo

E tão perto,

Nada passível de compreensão.

O ontem eu desejo estar, o agora me faz ter medo.

Peno por um miocárdio esfolado

E almejo uma segunda dose de lembranças açucaradas.

Faço das mágoas, minhas terceiras mãos

Um sistema linfático externo,

Que me devora o orgulho, brota-me mais uma perna

E me arremeça de novo ao chão.

Pode se matar por mais de uma maneira,

E a melhor de todas elas é a que é feita de dentro pra fora

E não envolve cadeia.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 16/02/2018
Código do texto: T6255839
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.