A ARANHA E A LAGARTA

Não foi uma luta justa.

Quando flagrei a cena

O aracnídeo já devorava

[a lagarta

Nutrindo-se lentamente

Das vísceras liquefeitas

Pelo veneno que lhe havia

[sido ministrado

E no qual agonizava

Por algum tempo

(Quem sabe dias?)

Antes da minha vista.

Sim.

A vítima estava detida

Sequestrada pelo artrópode

De oito patas.

O cárcere de seda

Havia lhe extorquido a cor.

Empalidecida, acinzentada,

A larva não poderia

Pagar o resgate

E a arquiteta da teia,

Calculista e alheia

Ao clamor de piedade,

Continuava as investidas...

A lagarta sucumbia

Um líquido esverdeado

Dela se esvaía.

Vida-selvagem-urbana!

A sobrevivência é mesmo

[profana!

A lei do mais forte

Cala os “sem-sorte”.

A fome devorava

[a beleza

Aquela lagarta perneta

Não se transformaria

Numa linda borboleta.

Talvez fossem lilás

Suas asas...

E meu jardim visitaria

[assaz

Mas ela veria jamais

O mundo de cima

Ao revés,

Morreria sugada

Em duas etapas

Pelo interessante

Sistema digestivo

Do aracnídeo.

Contemplando o espetáculo,

Imbuído de um misto de

[asco

E curiosidade estudantil

Resolvi fechar as cortinas

Da morbidade natural:

Alvejei a extorsionária

E a ofendida -

Que, a essas horas,

Não sei se resquício

De vida possuía

Ou se só o cadáver

Se retorcia

Pelos movimentos

Das quelíceras -,

Eu, que não sou doutor

Em biologia,

Com spray “mata-insetos”,

Comprado por oito reais

No supermercado mais perto

De nossa residência,

Dedetizei!

Apliquei uma grande quantidade

Que julguei suficiente

Para aniquilar, de vez,

Predador e presa.

Afinal, não gosto desses bichos

Feios no meu quintal.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 14/02/2018
Reeditado em 08/08/2022
Código do texto: T6254100
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