Máscaras
Leio um amor feliz
Da poeta que ri pra mim na capa
Perguntando por que estou aqui
Enquanto meus vizinhos do prédio
Que dá pros fundos da minha janela
Reproduzem na voz o volume da bebida
Afinal, é carnaval!
As pessoas estão mascaradas nas ruas
Tentando se agarrar a si
Ou ficar nuas
Dos pudores que as vestem de quem são...
Enquanto isso, eu leio poesia
E visto poemas com a minha face
Esse rosto que emprestei outrora
Pra menina que brincava
Entre confetes e serpentinas
Cantando marchinhas no salão...
Ela jura que me devolveu
A máscara
Mas só eu sei quantas vezes
Precisei improvisar aquele brilho
Distraído e contente.
Naquele tempo, Wislawa Szymborska
Nem pensava em me olhar assim
Entre alegria e certeza
De que ainda vou rir
Das muitas máscaras que vesti
Nos carnavais sem confete...