Fulminante e outras presepações..
Fulminante
O bater de todo coração
Um torpor fulminante
A cada segundo, o movimento involuntário da vida
Tolos, distraídos, dentro dos próprios sonhos
Nós, esses rostos encardidos, nos enganamos
Que não somos.. como cada batida
O corpo funcionando e, nós, alienados
Que não somos sobrevida
Saberíamos muito mais sobre o nosso destino.. sem saída, se percebêssemos a nós mesmos
Incansáveis, fábricas de ilusão, de resistência e desespero
À inescapável voz da desistência, quando a morte já não é mais segredo
E se junta ao silêncio, como um vento constante
Que não para de assoprar: palavras sem símbolos, sentidos sentidos, cortantes
Que esfriam a pele, congelante
As sensações mais universais, as mais importantes
Sopra o cansaço mais profundo, o deixar-se
Na dualidade, em que puxa a vida
Na sombra do vento diz, baixinho:
Este ainda... não é o seu último sorriso
Baluarte
Ao mesmo tempo te incita, faz com que nunca desista
Até, de fato, ser o seu último dia, quando enfim .. o corpo suicida
Mas a alma...
A alma até o fim, excita
E acredita em sua eternidade
Ronronar de um gato
Eu te amo, eu te amo, eu te amo
Diz aos ouvidos.. e quem escuta é o coração do "dono"
O felino, de instinto-vida
Faz de ti o seu amo
Te segura no colo e, você, no abandono
Comunica com o olhar, com o seu calor brando
Encontra um acalanto na breve vida, sua e dele
Mais sincero que qualquer palavra
Tão direto que até o muro impacta
Bombardeio de tanto amor...
Te dá de graça, a alma sorri, mesmo em seu constante torpor
Naquele momento mais preguiçoso...
E você mais rico que o mundo em volta, orgulhoso
Queria que nunca mais fosse embora
O seu pequeno espelho carinhoso
Mas sabe que estão no mesmo barco
Que irá afundar também
Que está fadado
Que a passagem é só de ida
E isso não importa
Só quer ser felino e desdém para o que intriga
Quer ser como o gato
Deitar de barriga e se afundar na fossa, boiar no próprio lago de instinto e bossa
Os asteroides da ilusão
Existem alguns bombardeios, que nos fazem sentir mais vivos
Mas não atraímos qualquer bomba,
Asteroide ou meteorito
Chamamos os mais próximos dos riscos
Que vêm em nossa mente,
Que vêm pelo nosso chamado
Sem termos sequer pensado
Pelo instinto, quando já está tudo dado
Antes de nascermos
Foi tudo combinado
Não com você, nem comigo
Vezes nem tudo
E algo dá errado
Vezes nem tudo
Milagres repetitivos
E de um erro paradoxal
Um indivíduo excepcional é parido
E do útero, saímos os mais despertos
Com os destinos mais incertos
Com os olhos mais livres e ousados
Precisamos sentir.. que estamos mais vivos do que sentimos
Não bastam os respiros
Os suores ou as excitações
Por mais, pedimos
Precisamos de guerras sangrando os nossos corações
Precisamos de problemas para nos esquecermos em suas confusões
Sim, nos esquecermos
Nós, que no final das contas, somos os nossos maiores dilemas
Por isso atraímos, sem querer
Teoremas que não sabemos resolver
Isso ocupa o nosso tempo
E a distração, pra nós, é mais que tudo, uma necessidade, um incontrolável impulso
Hesitado, excitado
O instinto aflorado
Excita, quando não vê barreiras
Quando se lança, além de suas fronteiras,
Hesita, quando a mente excita
Quando ela vai ao gozo primeiro
Mais forte, intenso, seco
Por dentro
O instinto ejacula um pingo
Se reconhece no espelho, aquilo que sempre foi, um menino toureiro
Que mal sabe gozar a vida
Sem macula-la com os seus dedos torpes
Sem transformar sua flor em ferida
O imaturo volta a ser verde
A mente toma as rédeas de si mesma.