A vida é a imposição de sua implosão
A vida se implode até à morte
E se salva com a reprodução
Mas não a nós
Que somos cobaias de suas promessas
Caímos em seus botes
Passamos a vida
Mas não a nós
Na decepção, muitos se enganam e chamam redenção
Não nos replicamos em nossos descendentes, vivemos o nosso drama, e não é pra sempre
Implodimos com os nossos prédios, ainda crentes dos seus mistérios
Afundamos com os nossos navios, como capitães orgulhosos porém ineptos
Até ao fundo do nada, de toda nossa confusão
E morremos indigentes
Ou ao menos passamos os nossos desenhos para a próxima geração
Como fósseis do tempo que temos... que somos
Os que eu tenho comigo, morrerão comigo
Se eu já me desenho, com os meus versos longos
Com o meu relógio suíço
Onde as horas batem contra as ondas
Correm ao contrário junto com as dúvidas
Com o amor errado pelos meus semelhantes, debaixo das luas e suas cúpulas
Que no meu universo, este é o horário mais certo, sem temor ou culpa
Apenas reto, na curva em que os meus cabelos castanhos se emaranham
De amor, em minha essência, a minha vida continua desde o primeiro ano
Mas eu posso, com as minhas palavras
Forjar nações, amansar espadas
Passo os meus descendentes em forma de poesias, meninas exemplares e safadas
Por minha humilde e primitiva filosofia
Por minha paradoxalmente arrogante ousadia, de aconselhar do alto dos meus pés pequenos, do meu nariz pedante, do meu rosto vermelho
Até acho que defender uma cultura tem mais serventia
Se ela prosperar primeiro
Se você for mais ou menos como ela
Se ela dominar o planeta inteiro
Que a humanidade tanto detesta
Se não for esta a sua humanidade
Então poderão ecoar os ventos dos seus pensamentos, dos seus valores, dos seus restos derivados, harmonizados ou debochados dos fatos,
Multiplicado, em pedaços ou em corpos redentores, serão os seus renascimentos
Semearás as suas palavras sem precisar de mulheres grávidas
Sem precisar de nazarenos
Parece valer mais a pena
Do que ter dois ou três descendentes
Diferentes de mim, ou de você
Amadores de mim, ou de você
Ao invés de procriar
Procurar a sua matilha de lobos
Os mais propensos a te seguir
Aos seus desígnios, suplícios roucos
A vida nos impõe desafios que não escolhemos
Aliás, escolha, que palavra mais nojenta nós temos
Se fosse um ideal não seria uma pena se não fosse
Escolha, sinônimo de paradigma
Escolher o quê, por quê, para quê??
Achamos que os nossos meios são meios e os seus fins são os nossos princípios
Somos insípidos feitos de ócios
Mas na verdade não temos finalidades maiores do que as nossas verdades jocosas
Somos ínfimos e porosos
Bem no meio de uma imensidade intensamente esplendorosa
A letra é o tempo
O número é o espaço
Do tempo que está dentro
A letra, o prelúdio do seu sentimento
A palavra, a junção de um sorriso ao firmamento: Alegria
Que desenha em suas asas, antenas ou mentes insanas, a sua contínua beleza
O universo e um pouco de suas entranhas
A sua própria arte, uma teia ou uma vespa
A vida, como um inchaço hiper concentrado de toda verdade
Faz-se de si a sua própria
Assina própria pele o seu contrato
Marca com ferro quente a sua fossa
Que os ancestrais passaram
Orgulhosos, temerosos, desgostosos
O molho azedo que legaram
No fundo, gostariam de ti um reflexo perfeito, a preço módico, apenas uma réplica, eles refeitos, infinitos códigos
O espaço/tempo é contagioso
Durante o momento geológico, grandioso
Longas luas, múltiplos sóis, relógios colossais,
O vento empurra as costas das dunas
Formando novas
Germinando as sementes da vida
Em novos girassóis
Numa aurora discórdia
Que outrora mãe
Agora a filha
Que chora e ri para o desafio, na ousadia que todo medo traz
Raspando a pele fria, enfrentando as farpas do sereno, vontade imperiosa de nunca voltar atrás
Lutando bravamente pelo seu brevemente
E passando a sua corrida inconsciente
As suas pernas trocadas
Os seus passos atrapalhados
As suas correntes em suas mãos machucadas
Os próprios defeitos
Condensados em um só
A vida imperfeita
Luta, mata, morre
Por si só
Um nó, destinado ao pó