ASSUNTANDO ESTRELAS (poemas e poemetos) - Livro completo

Autor: Agnaldo Tavares Gomes

APRESENTAÇÃO

Trago reunido neste livro alguns dos meus suspiros curtos, mas profundos... Foram compostos em momentos em que fui pego de surpresa pelas circunstâncias da vida...

Uma folha que cai de uma árvore aos meus pés, um colibri a beijar uma flor, uma menina a passar por mim como se a dançar um balé...

Tudo é poesia, e tem uma essência de eternidade que nos arrebata o coração na magia poética da vida!

Vou assuntando estrelas e escrevendo o encanto em cada uma delas...

(As poesias que compõem este livro foram escritas entre 2002 a 2006.)

DEDICATÓRIA

Aos poetas de tempos idos...

aos presentes e aos que virão...

I

Saudação

Entro eu num imenso jardim,

Vejo flores por todos os lados,

Cada uma na sua cor mais linda que a outra.

Apanho uma com pétalas de aparência intermináveis,

Destaco-as uma a uma e as dou para cada poeta, dizendo:

- bem-vindos!

O meu modesto livro está de páginas abertas,

Podem entrar... Um por vez,

Sem alvoroço.

II

Quando se lembrar de mim

Abra as cortinas tuas

E me procures distante... – talvez na lua –

E encontre-me tão próximo – no teu peito –

E quando sorrires um instante

Lembre que do outro lado – bem aqui –

Um poeta também sorri

Na lembrança de ti.

III

Já faz uma hora que busco um caminho para um poema...

Triste cena de um poeta

Talvez por falta da Musa desespera...

Dê-me um sinal de vida

Menina perdida na distância...

Só tu sabes como.

IV

De dento de mim vejo teu rosto,

Tuas mãos, teus dedos de fada...

Tu me apertas a teu peito,

Rouba-me a fala...

Naquele instante, eu no teu peito,

Queria dizer...

Mas como dizer

Se eu no teu peito sou apenas

Retrato?

V

Um mar de felicidade existe por traz dos olhos dela...

Um mar onde mergulha os sonhos de um poeta

– mesmo que não saiba nadar –

Da profundidade deste mar infinito

Erguem-se versos – muitos –

Compõem-se poemas – tantos –

Enchem-se as estantes infinitas...

Daí não há poeta que se diz infeliz

Depois de adentrar neste mar.

VI

Intérprete

A mão à bandeira... – ao aperto do punho –

Ergue o braço qual mastro

Atira do peito pra fora dos lábios

Versos do “poeta dos escravos”.

VII

Testemunho

vi teus olhos sumirem na distância que dava pra rua...

vi a luz deitar no teu seio antes que a livrasse da presença de mim...

Vi um poeta com lágrimas nos olhos...

vi uma lágrima ao chão bater...

vi o chão estremecer...

Por fim,

Um poeta adormecer na aflição de si mesmo.

VIII

Um breve poema

Abro a janela e deixo a luz beijar os versos que se dão ao papel a montar o poema...

Não importa que seja tão breve quanto a vida do poeta

– porque um poeta devia ter um século a mais de vida –

Também porque um poema longo pode não haver tempo suficiente para escrever...

Porque essa luz que vem lá de fora e beija meus versos se apaga pouco a pouco...

Tenho de terminar o poema, e esse será breve...

Um breve poema num espaço metade de uma folha do meu pequeno caderno de rascunhos.

IX

Tirei da cartola um verso encantado e o pus a voar...

e voou!...

X

Os olhos do poeta moram no poema!...

Assim é que retornam a viver quando

Refazem o caminho por onde os correram...

– alegres ou tristes caminhos –

XI

O mundo anda com as pernas que tem...

As ondas vão... E vêm...

As estrelas caem de olhos fechados...

O sol olha pra todos os lados...

E eu, poeta,

Simplesmente faço poemas.

XII

O eco

Na distância morri os olhos e avistei o infinito...

E era calmo, doce, sereno...

Dentro do infinito avistei um olho...

E me olhava surpreso, atento...

Perguntei ao olho: quem és tu?

Respondeu-me um eco: tu.

XIII

Deixei meus olhos numa estrela para onde o sol nasce... – e me perdi simplesmente –

Dentro daquela estrela dançávamos... – eu e a vida, a sós –

De mãos entregues, olhos submissos, ouvidos cativos aos doces acordes da canção...

Uma flauta saudosa, um piano melancólico... – será a música dos anjos? – (quem o sabe)

... e dançamos... e sorrimos... – pois éramos felizes!... –

Só que... meus olhos fugiram da estrelas e me encontrei

Deitado sobre o braço de mim... – era apenas sonho –

XIV

Os corpos dançam...

e acompanham a música...

O ritmo é de si dançar... – seduz –

Os corpos entendem a dança... – e dançam –

Masturbam...

Deliram...

Orgasmo feminino

Êxtase masculino

Sexo! Sexo! Sexo!...

Essa dança, essa música, esse ritmo...

Os corpos podem entender a dança,

Mas a letra, nunca!

XV

Retrato

Eu queria que a vida me fosse um retrato eterno

focado todas as pessoas que dividem comigo

uma espécie de coisa assim: tão linda, tão boa,

tão carinhosamente divina;

E ficássemos ali eternos, para sempre,

vivendo aquele instante único de imagem.

XVI

O espelho em que me olhava

Tu te lembras do meu olhar no teu?

Era com o de uma criança

Tentando compreender:

O quê, o porquê...

Mas o meu compreender não era o mesmo

Que de uma criança – ingênuo –

Era sim de um adulto.

Eu queria compreender o porquê

O meu amor não tinha reflexo

No espelho em que me olhava.

XVII

Li outro dia que a olho nu

É possível ver no céu de uma linda noite estrelada,

Setecentas mil estrelas diferentes

E que existe oitenta e oito constelações.

Entretanto, no meu céu é possível ver,

Setecentas mil e mais duas estrelinhas

Sendo que essas duas últimas são as mais belas

E cintilantes,

Às quais compõe a octogésima nona constelação

Da via - láctea,

A qual a dei seu nome!

XVIII

A uma Joaninha

Joaninha, joaninha

Deixe-me escrever em paz!...

Não fique passando por sobre o poema

Ainda estão frescos os versos.

XIX

Prenúncio

Um dia deixarei este corpo,

esta vida, esta loucura doce e amarga

de escrever poesias...

E irei... Para aonde?

Não sei.

Só Deus sabe!

XX

Olhos discretos

Além dos olhos estão os sonhos;

dos olhos voltados ao nada,

abertos simplesmente por abertos

mas com um sentido discreto de que os vêem abertos.

Os olhos dos sonhos dos olhos meus abertos

são os belos olhos secretos;

belos e belos olhos belos!...

Que mundo!

Que sonhos!

Que olhos risonhos!

Secretos.

XXI

São trêmulos...

Os lábios antigos de beijos,

Cansados...

Mas incansavelmente de beijar.

Que se beijem os velhos e os novos amantes,

Que não se cansem de beijar!...

Pois, beijei – em sonhos –

Os lábios nunca antes e que jamais hei de beijá-los.

XXII

O vôo

Levantam-se vôos nos aeroportos

aviões e aves vilãs...

Vi uma pousar bem perto da turbina de um

Boeing

Tantos e tantos tripulantes,

uma ave de rapina apenas.

Isso que é perigo constante!

XXIII

Versos desgarrados

de um poema infinito

como estrelas de uma constelação...

XXIV

Lembrando dos amores passados com um poemeto

menorzinho que o título

Aos meus amores passados um versinho novíssimo:

Sejam felizes!...

XXV

Cada artista com sua arte

Cada poeta com seu verso

Cada mocinha com sua graça

Cada estrela com o seu brilho

Cada sorriso com sua alegria

Cada flor com sua cor

Cada louco com sua idéia...

Resumindo:

Cada um com si dentro de si.

XXVI

Eu por você sinto que a vida me foge...

...me foge para os teus braço.

XXVII

Cama vazia

sem dama.

Dama

na cama vazia...

De noite ou de dia?

Não importa,

isso também é poesia!...

XXVIII

Para ser feliz não preciso de muito,

preciso apenas do teu nariz

no meu nariz.

XIX

Se quiser pode debruçar...

o meu poema é uma janela

aberta ao mar.

XXX

Tua nuca na minha

Tu nunca minha

Tu oposta a mim

Ti aposto sim

Tu num caminho

Eu

Noutro caminho.

XXXI

Desfeito o laço

O corpo desnudo

O olhar consumível

Devora-se o corpo

Quebra-se o lacre

Desfaz o pacto

Perpetua-se o momento.

XXXII

Um verso tonto

Caiu do bolso

De um poeta bambo.

Caiu na enxurrada

Enxovalhou-se todo

E se escorreu para o bueiro...

(o bueiro engoliu o verso)

Que verso era aquele?

Que poeta era aquele?

- Descuidado!

Andar com versos no bolso

Saltitando poças de água.

XXXIII

De felicidade rio tanto

a transbordar o rio

do meu pensamento...

XXXIV

Tresloucado – 1

Transitou-se o pensamento

Amou sem medida

Entrou de cabeça na água

Sem olhar a pedra

(perdeu a cabeça)

Tresloucado – 2

Amou pela segunda vez – a mesma –

Perfurou o próprio coração

Dissolveu-se como coisa abstrata

Perdeu-se em devaneios...

– E agora?

Quem foi a ninfa que te elevou ao cume

E te deixa cair como neve no abismo?...

XXXV

teatro

ato

ator

atriz

te

a

mo!

sou triste

e

sou feliz.

XXXVI

Como compreender você sem mim

se não me compreendo sem você?...

XXXVII

Estrelas para quê

se a noite não me é feliz...

para quê estrelas no céu?...

sobre o meu chapéu

e sob o meu nariz!...

XXXVIII

De antemão repasso os versos

do meu mais novo poema...

(olha que linda cena!

No limoeiro um beija flor

beija o ante-limão...)

XXXIX

Enquanto a chuva cai...

(olha que graça)

Ela conta com os olhos

os pingos na vidraça...

IL

Saí à noite... e lá fora

olhei-me para cima

(olha só,

o céu pingos uma estrela

nos meus olhos...)

L

Um sol sobre uma folha...

Uma folha sobre uma rosa...

O vento assoprou a folha

A rosa sorriu para o dia

E inspirou-me esta poesia.

LI

De repente tive de partir...

tive de partir do cais dos teus olhos para nunca mais...

tive de partir antes de a chuva cair

e a maré subir...

mas de repente tive de ficar...

tive de ficar porque não pude partir

deixando para traz os teus olhos inundarem em lágrimas

por mim.

LII

A noite acalmou o vento com o pensamento lento...

– minto?

LIII

No céu nuvens passam por entre nuvens...

por entre nuvens no céu o meu olhar percebe o infinito...

E continua assim:

A dança das nuvens e o meu olhar distraído...

Num dia de sol tímido

frio de inverno.

LIV

O meu olhar é um farol sempre aceso!...

Através dos sonhos vejo meu amor passar...

Ora passa como um pingo d’água na vidraça...

Ora uma borboleta sobre uma orquídea suas asas...

O meu amor vezes é uma nuvem que deságua...

que deságua por sobre as pedras da causada

quando não vejo o meu amor passar...

LV

Um olhar...

um olhar por detrás das lentes...

por detrás das lentes do óculos...

(do óculos e do binóculos)

Um olhar no futuro!...

LVI

Estou dentro do dia

tangendo o dia

para que chegue o dia...

LVII

Quer sentir melancolia?

então...

feche os olhos e se imagine

o último átomo na atmosfera terrestre...

LVIII

Há fascinação nos olhos teus

Que os meus olhos ficam bobos...

No teu seio aconchego

Que me acalma do mundo os velhos medos...

LIX

Para que as estrelas se movam no céu,

giro-me.

LX

Flor de cereja

Cerejeira em flor

Se for

Que seja!

Se for amor.

LXI

A lua

pôs-se à rua

totalmente nua...

Nualua

luanua

nuarua

totalmentenualuarua

LXII

Entretanto

sou um poeta

entre tantos...

Qual mais penetra?

Qual mais santo?

LXII

Estou contido em ti

Você contida em mim

no amor

no humor

no mel

no fel

no fim.

LXIII

Dizes que a alma é pequena...

Não é mais pequena

que este poema.

LXIX

A arte é como o olhar...

Universal!

LXX

Vai não meu bem,

deixa esse trem passar...

Já basta o montão de saudades que leva lá dentro...

LXXI

Pronto!

Assinado e ponto.

Agora vou descansar a mente

para não tornar mentiroso.

LXXII

Um dia desses (na mesma direção)

Um olhar se perde no meu

e eu me perco nesse olhar...

LXXIII

Mundo sem portar e janelas;

sem teto e sem paredes...

Mundo aberto, descoberto

abstrato.

LXXIV

Olhou de repente para mim

com um olhar de quem busca o infinito

na lonjura do oceano...

Olhou e abraçou-me sorrindo

morrendo de amores...

E morreu naquele instante – infeliz –

como uma atriz...

e renasceu em mim.

LXXV

Tamanduá

com a mão no ar

ta que ta...

_ Socorro!...

Vá lá meu nego,

destape o vatapá.

LXXVI

Ser assim:

Ponto sem fim...

Ser eterno

Sempre.

LXXVII

Os pés se vão...

E a solidão dos passos

fica na areia.

LXXVIII

Um poema premeditado...

Premeditar o poema é crime?

Que crime há nisto?

Ó crime sem crime!

LXXIX

Deixei meu olhar pousar como um jatinho

no aeroporto dos teus olhos...

LXXX

Irei me findando, me vultando a caminho de uma longa estrada...

Irei acenando com a mão até minha imagem se cumprir o infinito...

Porém, quem ler um verso meu

me viverá outra vez.

LXXXI

Que saudades!... (já faz uma hora e um pouquinho que não te vejo)

LXXXII

A viva é mesmo assim:

é amar enquanto há tempo pra se amar

porque depois...

depois não haverá mar...

(quem dirá tempo)

LXXXIII

Enquanto o tempo se afasta arrasta nos com ele...

E de companheiro com o tempo vivemos

temporariamente.

LXXXIV

Sabe onde você está tatuada em mim?...

Sabe mesmo?

Não no coração

mas no pensamento.

LXXXV

O silêncio é uma canção...

Uma canção sem som.

LXXXVI

Eu não sou um desses que enlouquece na quermesse.

LXXXVII

O poeta se farta de versos

e o louco

de loucura.

LXXXVIII

Quando se despedem

o último olhar fica com um gostinho de

para sempre.

LXXXIX

Tenho de ir

Talvez para sempre, rumo ao infinito...

Tenho de apanhar minha bagagem já pronta,

num canto

E tenho de olhar as coisas, as pessoas

como se a última vez.

XL

Aprendi a fazer

(com o pensamento)

um esboço de você

sorrindo...

XLI

Não existe sequer

um cantinho para mim

no cantinho do teu olho?...

XLII

Talvez eu seja só pensamento.

XLIII

Hoje atestei o ditado que diz: (literalmente)

“Corpo de burro não é transparente”

Puseram um burrinho no meio do caminho

No meio do caminho atravessado

Impedindo-me a visão de olhar da ponta da rua

a ponta da rua.

XLIV

Bonito hein!...

Uma estrelinha rabiscando o caderno

como se fosse o céu.

XLV

Nesse exato instante rompe-me a tinta ao papel

e o meu pensamento corre ruas,

avenidas e esquinas

a procura de você...

XLVI

Nosso amor é assim:

um pouquinho de tu

e um pouquinho de mim.

XLVII

Coma sem alvoroço

nesta fruta

não há caroço.

XLVIII

Aqui, por detrás deste poema há um pensamento:

versos, estrofes, alegrias e tristezas...

Com certeza,

há um poeta por detrás deste pensamento.

XLIX

Fiquei te esperando

com um restinho de esperança destro de mim...

No coração.

C

Redescobrir a vida

é encontrar a saída

para todos os dilemas

que parecem insolúveis.

CI

Solução para todos os problemas...

- Dinheiro?

Não.

Amor!

CII

“Quem tem pressa come quente”

(a depender do quê)

CIII

Pequeninos versos para grandes amores...

Andes amores!...

CIV

Uma saída para... Ó!

Uma saída para a felicidade no amor...

- Uma mulher linda de saia curta?

Não.

Uma mulher linda de saia junta.

CV

O tempo remove a poeira do caminho

e o vento tange

para as entranhas do destino...

CVI

A lua no ar (nua)

Que lua!...

O homem na rua a caminhar...

O barco no mar a navegar...

Cada qual em seu estado

e em seu lugar.

CVII

Uma serena revoada de aves enfeitou o céu...

Olhei admirado.

De tão admirado que fiquei

tirei o chapéu.

CVIII

De um jeito ou de outro

Para ver a lua

Contorço o pescoço.

CIX

Menininha mimada

apanha um lápis

na cor que te agrada

e rabisca na lua teu nome

para eu ver

e ler.

CX

O céu é o infinito chapéu que encobre as cabeças do mundo.

CXI

“Sonhar não custa nada”

(desde que seja com a luz apagada)

CXII

Morri para ela

como aquela onda

que chocou-se contra o cais...

CXIII

Para que o Sap(at)o

tenha sol nos quatro lados

põe-se o Sap(at)o

no meio do sol atravessado.

CXIV

Toda vez é assim:

quando ela me vai deságua um mar

do meu olhar...

CXV

Uma canção feita à partir dos movimentos dos insetos...

Exceto

o movimento

lento

de uma centopéia

sem idéia

que ia

mas por ironia

deixou-se ser abafada

por um lagarto

ligeiro.

CXVI

Por um momento

parei para ver

eu a contemplar o mundo

da janela de um ônibus em movimento...

CXVII

Um poetinha qualquer

para uma grande mulher.

CXVIII

Para que a cidade durma sossegada

é preciso que se acalme

o pensamento dos homens.

CXVIX

A vida é um começo no peito

e um fim no leito.

CXX

Quando teus olhos percorrerem pela última vez meu rosto

pela primeira vez na vida notará

que sou aquele bom moço

que sempre amou.

CXXI

Sobre o papel o rosto atento

e o pensamento pra longe...

(um poeta em cena

à espera de um poema)

CXXII

Lá fora a chuva cai

molha o telhado

a calçada

e apaga as marcas das sandálias...

Aqui dentro um poeta chora...

Suas lágrimas molham o papel

em que repousam os versos.

CXXIII

Às vezes me sinto assim como agora:

um tédio dentro de mim

um tédio fora de mim...

Me ponho ao chão ... (limpo ou sujo)

deixo a cabeça entre os joelhos e

esqueço os desejos do mundo.

CXXIV

Conceito de anjo...

(pausa o tempo

para o poeta formular o pensamento)

... você!

CXXV

Quando perceberes então

que em volta de ti já não existe o poeta

daí talvez tu ti lembras que existo.

CXXVI

Eu não digo que sou o melhor poeta

Nem digo que sou o pior poeta

Digo apenas que sou poeta

E é tudo que digo.

CXXVII

Quero ser feliz

Molhar o meu nariz

No chafariz da eterna juventude...

CXXVIII

A paz e seus derivados é preferida

dentre os verdadeiros sábios

CXXIX

Cena de um teatro miudinho

(narração)

Naquela janela

daquela casinha

a menininha à sorrir...

Naquele jardim

daquela casinha

vê-se o luar...

Fim

(podem fechar as cortinas)

CXXX

Quando o meu olhar ganhou a dimensão

soube que o infinito existe,

porém não o compreendeu.

CXXXI

Fim de tarde

Começo de noite

Eu contrito

Com o infinito...

CXXXII

Assuntando estrelas e apontando o olhar para uma só:

Ela

aquela que me vêm assim:

sorrindo...

mas, infelizmente, passa

como gota de chuva que escorre na vidraça...

CXXXIII

De tanto te amar tornei-me um parasita teu.

CXXXIV

Coisas

Átomos

Versos...

Tudo de mim

Tudo que me compõem

Poeta

Homem

Menino.

CXXXV

A vida passa...

... e enquanto a vida passa

envelhecemos com os velhos amigos...

CXXXVI

Eu quero a realidade das coisas mesmo que

eu tenha de sofrer...

CXXXVII

Você se foi sumindo... minguando...

Quando dei por isso

Eu, feito um míssil fui ao teu encontro...

Meio tonto

mas fui.

CXXXVIII

Dançar, dançar e...

dançar

É o que faz aquela mocinha no meu pensamento.

CXXXIX

Tu me queres de ti distante...

mil anos-luz!

Pois bem,

vais tu pra outra galáxia!

CXL

Quando tu me chegas me beija com eloqüência de amor...

Me amas arrebatando-me a teu corpo...

E no instante em que meu peito ao teu peito se curva

Tu és só minha.

CXLI

“... coisa mais linda,

mais cheia de graça”

é essa menina fazendo pirraça...

Dança, dança,dança

e me deixa na ânsia de queres dançar.

Mas acontece que eu não sei dançara

CXLII

sei

ser

eu

mesmo:

original.

CXLIII

Um olhar...

Apenas um olhar foi o bastante pra arrancar de mim

Um suspiro com suspeita de amor.

Um suspiro poético.

CXLIV

Se eu te amo

E tu de modo mesmo (me amas também)

Como o reflexo no espelho.

Ninguém tem nada com isso!

O amor é de nós dois.

CXLV

Lição de amor

Jamais diga a quem você ama

que ela (ele) é um sorvetinho à seu gosto

Porque assim,

o seu amor pode derreter todinho...

CXLVI

Vai um poeta...

Vem um poeta...

O poeta que foi deixou a porta aberta

O poeta que veio escreveu um poema por meio.

Vai um poeta...

Vem um poeta...

E a poesia continua...

CXLVII

Estou numa ansiedade danada.

Naquela de tanger os dias com o pensamento...

CXLVIII

Ai, como penso nela!...

Como me dói o peito

feito tiro de carabina...

Ai, mulher danada!...

Sem jeito

Vai e deixa a tal saudade na cola de mim...

Não faz assim.

Se bem eu sou poeta

mas não sou de aço!

Vem pros meus braços mulher danada.

CXLIX

Queria ser sempre uma criança

Correr, correr, correr até...

encontrar a ponta do arco-íris.

CL

Fiquei feito um bobo olhando as cortinas bater na vidraça depois de o vento já ter ido embora.

CLI

Quem parte sem dar sequer um dedinho de esperança em voltar

morrer para quem fica no cais da saudade com os olhos postos no horizonte...

CLII

Sempre...

Lá onde descansa o vento,

onde dissolve as reticências, os números, as palavras...

onde o infinito se diz fim.

Pois bem: ao fim do infinito quero ir contigo!...

A minha mão presa a tua mão – nossos dedos enlaçados –

O meu olhar contrito ao teu olhar...

Mesmo que jamais cheguemo-nos,

mas que viveremos assim, eternamente,

nesse delicioso rito ao infinito...

CLIII

De mãos dadas

Dedos enlaçados...

Não éramos namorados (ainda)

Como duas crianças

sorriamos felizes...

E ainda não éramos (namorados)

CLIV

Sinto-me como um gelo ao degelo

derretendo-me em tuas mãos

a teus olhos atentos... (olhos redondos)

E enquanto me escorro a teus dedos

caio pelo chão e rolo porta fora...

Palpitando-me triste

como bicho magoado

ferido por dentro...

– o coração.

CLV

Pequeno Cristo

Pequenos dedos embolados à sai da mãe...

Soluços profundos

Lágrimas contidas.

Olhar de um Cristo pregado na cruz...

Cérebro paralítico

Corpo pluma – já não se sente

Súbito desmaio...

A fome transpassa o coração do menino.

CLVI

Genética

Quando eu ficar “velhinho”

Ou até mesmo

Quando eu cumprir meu caminho...

Meu filho (o qual ainda não o tenho)

Falará de mim como se auto-retrata ao espelho.

CLVII

Quero ter até mesmo o tédio do próprio tédio...

Menos o tédio da vida.

CLVIII

Sempre que falo contigo desapego de tudo...

Para mim

só nós dois é o mundo.

CLIX

Distante...

Que sufoco!

Que dilema!

Eu num porto

Você noutro.

CLX

Não tenho desejos de ganhar o mundo...

mas tenho uma pirâmide de sonhos.

CLXI

Deixa a chuva molhar a causada

escorrer na vidraça

virar enxurrada...

Deixa a chuva fazer alvoroço

beijar no meu rosto

depois de um esforço

contorço o pescoço

e faço um esboço

da chuva no mar...

Deixa a chuva passar

que eu calço o sapato

amarro o cadarço

e vou almoçar...

CLXII

Depois de dormir uma noite sobre o poema

acordo e percebo os versos amarrotados...

Um poema esmagado pelo próprio poeta

mal dormido sobre o peito dolorido...

CLXIII

Um dia uma Musa perguntou a mim

o que eu seria se não fosse poeta.

Sorri um sorriso socrático e disse:

Primeiro responda-me o que seria de ti sem o poeta?...

O silêncio tomou o rosto dela...

CXIV

Se um dia te amar como em cinema

É porque esqueci a fórmula do poema

Ou o poeta em mim

Talvez esteja limitado em si...

Sendo assim, deixarei de ser poeta...

Porque no dia em que te amar como em cinema

o poeta em mim sai de cena...

CLXV

Pra te provar amor talvez um poeta morra sobre teu peito...

Talvez delire antes de morrer...

Talvez morra silenciado...

Talvez esqueça que fora poeta

e rasgue da memória todos os poemas...

E talvez nem precisa tanto esforço...

E talvez esforçar-se seja uma perda de tempo.

CLXVI

Ela tem o sorriso mais lindo do Universo!...

Eu – um simples poeta – apenas versos.

CLXVII

Poética patética

poeta

pateta

poeta

penetra

poema

fonema

poema

cinema.

CLXVIII

Me enganaste!

por que?...

Será tua arte?!

Malarte!

CLXIX

Quando voltar

há de encontrar em mim

teu começo, meio e fim.

há de ser feliz e fazer

do meu peito

teu país.

CLXX

Distante de você

a vida é vazia, desnuda

desejos inúteis

paixão...

um chão frio em que me deito nu

olhando o nada em volta de mim...

CLXXI

Sabia o endereço dos teus olhos...

hoje nada sei de ti.

CLXXII

Vamos assistir o tempo passar?...

Só nós três:

Eu, você e o mar...

CLXXIV

Os tristes olhos do menino lançaram-se de dentro

do seu mundo pequenino para fora de si...

para a vida presente e injusta.

Tristes olhos de um menino que nunca soube escrever...

Nem sei como ler os cartazes e os outdoors.

CLXXV

Pequena poetisa

Abraçou os dedinho ao lápis

pôs seus olhinhos à janela

e brincou lá fora...

Correu no jardim encantado

brincou de roda com as rosas

voou com as borboletas e...

acabou por fim

dormindo sobre seu caderno de poemas...

CLXXVI

O poema é antes de tudo

fragmentos do peito do poeta.

CLXXVII

Poe (t) ma

O poeta mora no poema ou

o poema no poeta?

Poe (m) ta

CLXXVIII

Os dias esquecidos para trás

como folhas tangidas pelo vendo...

CLXXIX

Se eu morrer assim:

com os olhos postos à janela

enquanto a xícara com o café se esfria

por sobre a mesa...

Morrerei feliz

sabendo que algo me espera,

mesmo se esfriando...

O Poeta Baiano
Enviado por O Poeta Baiano em 08/02/2018
Reeditado em 08/02/2018
Código do texto: T6248201
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