o círculo que faz o compasso

O círculo que faz o compasso

Estavas alí,

Invisivel na tua espera,

Vestindo-se

Da placenta de tua mãe,

E já eras…

Viajavas alí,

Entre as vontades e as necessidades

Nessa esfera,

Enquanto teu sonho se afasta

A cada quimera

Do traço dos desencontros

À procura

De míseros pontuamentos

A seu critério…

E o céu continua distante

No horizonte

À vista do inebriante fim

Do arco-íris…

Entre o aqui e o depois

do sonho, iludido ser

real.

O que vês pela frente?

O que te vai pela fronte,

Se ao caminhar pisas teus passos

De ontem?

Bates nessa parede,

Na porta que desenhaste nela,

Mas que não existe!

A porta se fechou no ontem,

Naquele sonho amarelecido,

De antes…

Pediste ao teu Deus

Mas Ele silencia ao teu pedido

Pela estapafurdia vontade

Do que querias sem o suor

De tua face…

O que tens pela frente

É uma vida inteira de calosidades

Antes que tudo passe.

Pensaste

nessa hora dolorida?

Nessa fusão

entre sonho e vida?

Gritavas para que te abrissem portas,

Mas apenas gritavas…

E as portas não se abrem,

Senão ao gesto forte de força-las

À mão e ao corte de tua navalha…

Teu Deus precentira cada falha,

Cada desistência, cada ira…

Teu relógio, neste instante,

Aponta os ponteiros empatados

No zero simultâneo

De horas, minutos, segundos,

Transformados dos anos…

Pensaste nessa hora advinda?

Ou estás ainda naquele útero

Que te aqueceu a vinda?

Os passos que deste, deste…

Agora os passos que tens de dar

Ao que mereces…

Teu calendário emenda

passado e futuro

e,

embora tu não entendas,

lavra teu prisma infinito

entre os dias vazados e os por vir

nessa contenda.

Encontrarás,

Nas cicatrizes de teus dedos

O desvelo de teres sido

Inteiro!

Toma dessas mãos que te afagam,

As tuas próprias mãos,

O ar que não te é alheio

E leva ao porvir de teu anseio

O que tens pela frente

De teu meio.

A noite escura

Não te vem do alto céu nublado,

É de teu céu que anoitece o eito

Em meio dia feito…

No lago o peixe parece-te um pássaro?

Mas nem o pássaro voa

Ao primeiro passo,

Tateia o ninho, como o peixe a lama,

Como tu a cama em que deitaste,

Sendo todos do mesmo meio,

Ocupamos nosso espaço sobre a terra

Ou sob ela,

Pendente o esforço

De caminhar o antes desta noite,

Que cada um de nós,

Pássaro, peixe ou homem,

Faz-se singular, embora múltiplo,

E respira o ar, puro ou impuro,

De cada esfera

Dentro dessa esfera maior,

Em nosso mundo.

A distância é prisioneira

De teu remo,

Rema… Rema…

Que a noite está distante

Mas já chega

Ao teu penar e teu contentamento,

Que o sonho faz-se real

A cada trecho

Se sonhado menos.

O círculo que faz a esfera

Está pronto.

Nadou o peixe, voou o pássaro,

Caminha, homem, tu,

Que vieste de tão longe,

Descansa,

Que te espera a esperança,

A última que mata

O que seria a dança

À música esperada

Nessa trança.

Dorme, criança.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 06/02/2018
Código do texto: T6246938
Classificação de conteúdo: seguro