VERSOS DE CIRCUNSTÂNCIAS - Livro completo

Autor: Agnaldo Tavares Gomes

APRESENTAÇÃO

A tarefa do poeta é, sobretudo, despetalar em versos as cores e descores do cotidiano, as belezas e feiuras que circundam a vida humana... Revelar um mundo implícito às sombras da realidade...

Ser poeta não é uma questão de querer, “eu quero!” Mas, uma necessidade proposta pelas circunstâncias da vida... É ele um humano convicto de suas falhas, sem conservadorismo, flexível ao que é verdadeiro...

Não há cobaísmo no apostolado do poeta, não é ele um discípulo compulsório, mas sim uma condição espontânea da grande realidade!...

O chamado do poeta vem através de seu dom de poetizar, pelo qual se faz necessário entregar-se a uma única missão, como assim dizia o grande filosofo Spinoza, “polir as lentes da humanidade”, fazendo com que enxerguem melhor.

Desapegado da política sem deixar de ser político, no abandono da religião sem abandonar o Cristo, deixado de servir com cortesia a sua região, o seu Estado, o seu país, semelhante, em termos de caráter, ao Apostolo maior bandeirante do evangelho, “cidadão do mundo inteiro!” São estas as características do poeta.

Vivo em constante busca por esta perfeição!

(As poesias que compõem este livro foram escritas em 2009.)

DEDICATÓRIA

Aos amigos e amigas que fizeram e fazem parte dos

meus momentos circunstanciais.

VERSOS DE CIRCUNSTÂNCIA

Tenho nos olhos lágrimas resguardadas

E se vão todas de mãos dadas

A tecer verticalmente meu rosto calmo

Contemplando o amor desmaltado...

De braços cruzados, olhos compridos na distância

Poetizando versos sem palavras

Falando a sós

Interrogando-me

Caducando...

Tudo me apresenta clarividente

Os dissabores de uma vida legada a viver

Buscando sempre remédio pro tédio...

A busca da paixão no ego dos homens tortos o coração

De contaminados prazeres pro corpo voraciado

Febrilmente voraciado a devorar carnes humanas...

E o quê que me pergunto não há resposta

São restos de um silêncio num poço depois de um grito ecoado há mil anos...

No acento cruzo e descruzo as pernas freneticamente...

Não tenho as cinzas de um cigarro apagado para deixá-la no vento

Nenhum pensamento formulado sobre a forma ética da etiqueta urbana...

Pouco me importa se devo me comportar como os hipócritas que se julgam superiores

Aos descamisados, descalços,

descartados junto aos cartazes amarelados...

Do acento me levanto serenamente

E vou eu em direção ao jazigo onde jaz um poeta sem orgulho

E sem inscrições na lapide... – mas feliz.

Esboço um riso, mas me vem uma lágrima

Não me decifro o código de mim mesmo

Nem pretendo decifrar Da Vinci...

Mim equilibro em minhas pernas curtas

E tento sempre aprender andar e amar

Como se é dito por imperfeitos que ainda assim

São meros aprendizes como a mim...

Em minha relutância sobre fragmentos

de uma lâmpada quebrada ando

E creio que vivo

E vivo crendo na vida possível...

Desfaço o aceno simplório de mim a mim

E com as mãos sujas cubro os olhos para oculta-los

de me ver embriagar na sordidez de uma falsa alegria na face mutuamente angustiada...

Depois de dar voltar em torno de mim mesmo

Retorno ao acento e sento-me a tornar olhar distanciadamente...

Compondo versos de circunstância.

APENAS UM POEMA

Deixe-me aqui a sós:

Eu e o Poema...

Deixe-me falar de coisas que para os outros

São coisas,

E para mim,

Poemas.

Deixe-me ao pé da cama

Repousar o papel virgem

Sobre o livro de Drummond...

Não tenho saco para crítica

Nem para poesia lírica – de amor.

Não tenho tédio, nem medo,

Nem sono e riso

Saco para humor...

Quero apenas escrever um poema

Sem tema, sem sal, sem gosto algum.

Quero um poema sem mente mentirosa

Não quero prosa nem rima

Não quero conto nem crônica.

Quero um poema,

Apenas.

AO MEU CENTENÁRIO

A eloqüência das palavras eu não perdi

Perdi a mocidade ainda jovem, mas continuo moço

Perdi o endereço do albergue, do circo e da alegria

E vou pelo deserto digitando passos na areia...

Se me chamam, não ouço

Vou de mãos nos bolsos – pensativo...

Confesso: desejei ser monge para fugir de mim mesmo

Para não ver minha sombra reclinada

Uma lágrima quente tecer meu rosto frio e pálido...

Desejei ser boêmio: o vinho morno, a aguardente

As palavras confusas sem entendimento

O banho noturno, os vômitos contínuos

A ressaca de manhã da noite inválida

As agudas pontadas na cabeça...

Mas preferi a vida que a morte

E prefiro a vida que a more

E preferirei sempre a vida que a morte.

Quero morrer de velhice aos cento e um.

Quero assistir ao meu centenário...

Ver meus versos lidos por crianças

Saber que deixo algo de bom a ser cultivado...

Uma singela lembrança – talvez.

Se eu morrer de revolta, morro consciente

De que faço a coisa certa.

Todas as minhas revoltas são certas – acho.

Perdoarei ao inimigo mesmo desconhecendo-o.

Se eu morrer de desastre – e muito novo

Culpo a morte por não souber morrer-me de outro jeito

Que não me deu tempo suficiente a ser útil.

Mas eu quero viver! – enquanto não me chega à morte

E viver é tudo que me importa

Sem o ego que cegam as almas.

Quando eu morrer deixe meu cérebro em paz – por favor.

Será inútil – Inútil mesmo

Procurar nele algo além de neurônios, artérias e veias esvaziadas...

Ouçam isto: Não cultivem cérebros

Cultivem palavras – as boas palavras.

LINGUAGEM

Meio sem eu anda pelas ruas sem pressa...

Procurando ler todos os letreiros por assombro da rudez do mundo moderno.

Perdoe-me, mas os escritos em Inglês eu passo os olhos por ignoto...

Não sei para que dobrar a língua mais que já se dobram neste país de

paraibanos, paulistanos, baianos, pernambucanos...

Basta-me!

No meu país só dobro a língua para falar aquilo que todos compreendem.

Deixemos as más e as boas línguas!...

Se o Caetano gosta de sentir sua língua roçar a língua de Camões

que mal se vê nisto?

Cada um faz o que bem quer de sua língua...

Eu mesmo prefiro a minha na minha boca,

Mas se haver outra boca - feminina - que atraia a minha boca

Deixarei minha língua dobrar noutra...

Deixemos as línguas falarem por si mesmas!...

Cada qual que bem cuide da sua...

Cuido eu da minha...

E falaremos... Do quê?!

Papel por fim, caneta por fim...

Enfim, melhor é finalizar o poema.

QUEM SOU EU?...

Nunca me perguntei antes,

Mas hoje tomei a liberdade.

Deitado no terraço do meu edifício sem andares...

Olho pro céu que imagino estar azul

-mesmo sabendo a real situação.

Pergunto-me ansioso do que eu possa pensar e dizer: ”quem sou eu?!”

Espero mais ou menos o tempo suficiente para tomar uma xícara com café, e, nada.

Talvez eu seja relativo como qualquer coisa

Ou talvez eu seja mesmo uma hipótese

Ou uma tese ou antítese...

Espere aí!

Em vez de eu gastar meus instantes na busca de me dizer quem eu sou

por que não deixar que diga quem na verdade

é esse sujeito que uns dizem poeta, ator, artista, atrapalhado (às vezes) quando é pra dizer quem é.

Talvez algum dia eu consiga fazer um autorretrato de mim.

AMIZADES

Tu acreditas no destino?... Também não.

A vida nos traz más e boas amizades!...

Mas sobressaem as boas amizades que as más.

Estas são eternas. Sobrevive a tempestades sinistras...

Muitas vezes somos intrusos, entramos na vida de alguém sem pedir licença

E quando percebemos já estamos à dividir talheres...

E quando acostumados não queremos ir embora,

E quando vamos embora fazemos brotar de dois olhos duas cascatas...

Quem explica este paradigma?!

Bons amigos nunca ausentam, estão sempre presentes...

Pois o coração onde a verdade fez seu ninho faz se ninho a eternas amizades...

Aqui também serve este recado:

“o que Deus uniu nada separa”

Tenho-te amigo (a) no sorriso largo...

Nos meus atos cotidianos...

No imperfeito e perfeito somos irmãos.

E irmãos em Cristo.

Pra onde quer que eu siga te levo comigo no coração choroso...

Sabes, vou contar-te um segredo que aprendi da vida: “saudade é amor na ausência”

Amigo (a), tomo-te à parte comigo e te levo a contar

uma verdade: sabes por que nunca te perguntei se me amavas?

Por que acredito em teus gestos

Pois teus olhos sempre me diziam amar.

Se preferires, amigo (a), tu me amas?...

Amo-te também... Não por que tu me dizes amar, mas... amo-te por não saber dizer por quê...

Li estas sábias palavras de um poeta cujo nome

não me recordo: “Quem ama nunca sabe dizer por que ama; se disser, é porque não ama”

Então, se um dia nos apartarmos que não seja agora, porque agora quero me envolver em teus braços

e num largo abraço ajuntar tua alma a minha alma...

CHAPÉU SEM ABAS

Sob o meu chapéu sem abas, transparente como a água vinda da mais límpida fonte, escondo meu rosto pobre de felicidade...

Ando disfarçando a vida difícil de levar...

Imensa bagagem que o cotidiano me conduz a insertos amanhãs... Talvez a sorte, se é que mesmo exista, me encontre por aí...

Sei, meu maior amargor são meus próprios erros.

Não sou perfeito como as plantas, nem perfumada é minha alma quanto às flores... Sou homem ainda profano. Um garimpeiro do nada neste mundo de ilusões...

Amei. Fui amado. Serei enquanto vivo... Sou sábio de que a vida independe de mim. Se hoje eu for embora, amanhã já não serei lembrado como vivente, mas como passado...

Queria mesmo saber o segredo dos místicos, como conseguem viver desertados: de sandálias e túnicas em direção aos reinos dos céus... Se assim eu soubesse, mais perto estaria à revelação do que é ser crístico.

Ando tão fugido da luz, em zigue-zague sobre as espirais que me leva a abismos infindos...

Tenho sido mais ego que propriamente Eu,

Esquecido de meu real sentido de ser humano.

Retiro meu chapéu sem abas e vou pela vida corrigindo-me os passos... Pois eu sou senhor do meu destino.

DOAÇÃO

É assim mesmo que corro os versos neste principio de noite... – À luz de

vela –

Deu-me vontade de compor – e eu componho...

Se meio apagado me saem os versos... Se me saem respingados...

Por favor, não culpe o poema!

Culpe o poeta...

Mal comecei... a vela já está no finzinho...

Terei de acender uma outra apressadamente...

Espere um pouquinho!...

(pausa)

Já estou de volta... de luz nova!

De uma vela que se queima reconhecidamente

Que a vida lhe foge...

E quantas velas não morrerão neste instante?...

Para ausentar a escuridão nos lares

Afastando o medo das crianças

Os maus preceitos das mães...

A luz deu um leve sinal de regresso...

Enquanto a lâmpada continua adormecida

Eu tento compor à luz de vela... e componho...

Do quarto ouço barulho na sala...

É o gato a brincar como o carrossel de linha...

Murmúrios de vozes... palavras sem nexo...

Todos esperam pela luz como se pela sorte!...

A noite tarde-se... a vela desmancha...

O gato continua o alvoroço...

Os murmúrios não quietam...

A luz!( está de volta)

Gritos... assovios... enchem a noite em festa!...

Assopro o restinho de vela que ainda me sobra...

E que sobra vida a ser legada a ausentar o escuro

De um novo apagão inesperado...

Que doação!

Se todos os homens se doassem uns aos outros

Como se fazem as velas!...

"O AMOR VENCE O ÓDIO”

Às vezes sinto ódio em mim

e perco a vontade de amar...

E perdendo a vontade de amar perco a vontade de viver...

E não quero amar porque amar às vezes me deprime...

Mas sempre o amor me convence a amar

com a mesma ladainha de sempre:

"o amor vence o ódio... o amor vence o ódio...

o amor vence o ódio..."

E vence mesmo!

UM POUCO DE REVOLTA

Queria dizer adeus ao mundo louco!...

Queria deitar-me essa noite nos braços da primeira mal amada que encontrasse à caminho ao suicídio...

Queria despir-me e andar pelas ruas desertas sem que ninguém me visse e me julgasse obsceno...

Queria dizer em voz elevada o nome das prostitutas que desejei amar loucas sobre meu peito...

Queria pôr fogo nos palácios que guardam os reis que se dizem deuses e que não passam de fezes fedidas

enfeitadas de ouro falso...

Queria deposta os “políticos” que profanam ao Cristo, que comparam-se a Rui, que idolatram a si mesmos,

Que nos furtam à luz e que obscenamente nos fazem caras de gozo...

Queria dizer adeus ao mundo...

Sei; o mundo me ensinou a fazer o laço para a forca;

Mostrou-me o precipício, o revólver, a faca...

Mas ainda assim...

...ainda assim luto e reluto e não me luto jamais!...

O mundo me precisa de mim...

Não darei este gosto aos bispos falsários, capitalistas;

Àqueles que nos chamam de anarquistas, e que são fascistas!

Não darei o gosto às caras de gozos dos “políticos” profanadores...

Dos “bons atores” que nos roubam o direito de enxergar a luz no futuro...

Não darei o gosto nem a forca que deseja como último

Envolver meus pescoço e espreitar até meu último hálito...

E assim apagar a vela que mantém acesa o espírito de liberdade em mim...

Queria dizer adeus aos versos, a melancolia, o tédio,

O ódio, o medo...

Queria dizer adeus a composição de mim que não se chama Carlos Drummond

Mas que é também a de um poeta...

Mas versejo que esse tempo é o tempo do meu poema!...

Meu tempo útil de gritar meu grito e cantar meu canto...

E ecoar aos vindouros irmãos...

Meus sucessores do poema que trago de Gregório, de Castro e de Drummond...

E sempre existira um poeta à advogar em causa dos marginalizados pelos deuses de “merda”.

Salve os poetas!

Propaguemo-nos a poesia infatigavelmente!...

DE VERSO EM VERSO

Nem sei se escrever seja realmente meu ofício

Enquanto não, vivo de verso em verso

A construir meu pequeno... Universo.

Sei, sou algum reflexo no espelho sociedade

Mas que reflexo sou eu?...

Um mero aprendiz – talvez.

Desta grande arte: viver a imensidade!

O SONHO TRÁGICO

Abriu os braços, foi à frente erguendo o haste...

Mostrando o estandarte!...

Cortou o arame, derrubou o cercado.

Curvado ao chão encheu as mãos de um punhado...

Fechou os punhos erguendo os ao céu.

Gritou com força: a terra é nossa!...

Abrindo os punhos deixou o sonho lamber seu rosto.

O pequenino que estava perto lhe abraçou os ombros.

Naquele instante, aquele homem tentou ser forte (não se conteve).

Minou os olhos, caiu em pranto abraçado ao filho...

Limpou o mato, bateu estacas, armou barracos.

Preparou o solo, semeou, a chuva veio, vingou.

Ouviram-se gritos (uma mulher desesperada)

Qual a desgraça?! Morreu seu filho?!

Chegou um homem trajado a um terno

Envolto a outros em mãos fuzis.

Batendo ao peito o homem disse: a terra é minha!

Armou-os de foices, inchadas, facões...

Postou-os diante ao homem de terno.

O lidere do grupo atalhou o homem: a terra é nossa!...

Tumulto feito. Tiro no peito. Cheiro de vela.

Choro fúnebre. Mulher viúva. Filho sem pai.

Desgraça feita. Sonho desfeito. Tragédia!

LEVIANA

Alguém te olhou com olhos de desejos...

E tu cobriste a pele qual Madalena...

Alguém te fez ver que a vida é feia

Trocou teu nome, pintou teu rosto de cores fortes...

Alguém chamou por ti quando ias...

E tu fingiste não ouvir, pois estavas leviana...

Alguém veio a ti falando simples...

Mas tu, com teu senso infernal, egoísta!

Quisestes palavras desprezíveis...

Alguém te deu a mão quando choravas,

Secou teu pranto, beijo teu rosto...

E tu te afastaste...

Preferindo a vida feia que a vida bela!

DO TELHADO DE CASA...

Hoje, do telhado de casa eis que em minhas costas caem três pingos d’ água, gelados... Minha atitude ao primeiro pingo, revolta; ao segundo, um palavrão engolido; e ao terceiro, uma expressão de riso no lábio... Pois ali eu compreendia a divina comédia: a natureza brincava comigo depois de um dia frustrante...

AOS OLHOS DA ATRIZ

Eu preciso de silêncio...

Um silêncio sem o eco do próprio silêncio.

Quero morar dentro do silêncio...

Permanecer ali, por um tempo indefinido.

Que aja tempo suficiente!

Que aja silêncio!

Por que... Os olhos da atriz me pedem um poema...

Seu olhar feliz e infeliz.

Dê-me um gole de silêncio!

Apaga as luzes da cidade, das torres...

Hoje não haverá festa nem rumores.

Estacione os carros, interditam os aeroportos.

Meninos! Não façam barulhos!...

Mulheres! Descalcem os tamancos!... Por favor, ande nas pontas dos dedos...

Bêbados arruaceiros! Não perturbem o silêncio!... Adormeçam...

Adormeçam também loucos, vândalos, ladrões...

Eu preciso de silêncio com urgência!

Guardas noturnos! Guardem o apito!

Eu preciso de silêncio contínuo!

Silêncio leitor! Silêncio!...

Leia o poema em voz baixa.

Eu preciso de silêncio... Compreende?

Silêncio pra eu escrever o poema pros olhos da atriz.

QUANDO TINHA CERTEZA QUE ELA ME AMAVA

Quando tinha certeza que ela me amava,

ou que ela pensava em mim... "amar é pensar”

eu olhava as estrelas não como simplesmente estrelas. Porque as estrelas tinham algo a mais que simples estrelas...

Tinhas o sorriso dela quando me sorria aquela única vez que nos vimos, naquele domingo de março.

Tinhas o brilho daqueles olhinhos tristes, mas lindos!...

E agora não vejo as estrelas como antigamente...

Porque as estrelas já não são as mesmas estrelas, apesar de estarem no mesmo lugar de sempre...

Hoje vejo as estrelas com uma nova devoção, como simplesmente estrelas, astros celestes com seus mistérios intocáveis...

Já não tenho o dom de sorris às estrelas, que procurar nelas a minha poetisa, porque ela reina noutra galáxia bem distante da minha...

Ela já não pensa em mim porque já não precisa do poeta...

O CORAÇÃO DO HOMEM

O coração do homem é seu maior orgulho.

Como disse o poeta dos poetas: "um colibri dourado”

O coração do homem é o recinto das paixões...

O templo sagrado a uma só mulher: sua presente amada.

Se tiveres um homem a teu cativo, mulher

Jamais o desaponte o coração...

É deprimente o padecer de um homem de orgulho ferido...

LOUCURA

De repente um poeta ressurge dentro de mim.

Um poeta menino, adolescente, apaixonado!...

Cheio de idéias de vida – idéias novas –

A vida, de repente, me teve um valor incomparável.

Ela: loira, linda, louca! – amar um poeta é uma loucura que só quem ama sabe –

Eu, naquele instante, o mais moço dos homens,

O adolescente mais adolescente – talvez o único e o último –

Mas o instante... O instante se foi.

E o que restou do instante?... Eu com essa minha louca idéia de que sou velho de mais para uma menina adolescente: loira, linda, louca!

MIL MOTIVOS PORQUE NÃO POSSO TE FAZER UM POEMA DE AMOR

Eu não posso te fazer um poema de amor porque...

Eu não sou teu poeta!

E nem você minha Musa...

Se bem que eu te queria fazer um poema de amor...

Mas, não sou louco suficiente!

Não tenho a ousadia que tem os suicidas, pois

Fazer-te um poema de amor é suicidar-me – e o poema.

Eu só faço um poema de amor a ti se pedires que faça – e de joelhos.

Digo isso porque sei que jamais me pediria um poema assim...

Ainda mais de amor.

Tenho mil motivos porque eu não te posso fazer um poema de amor.

SE QUISER ME AMAR

Se quiser me amar, me ame; não vou mendigar o teu amor por mim!...

O amor não se implora para tê-lo, se conquista com gestos simples, espontâneos...

E quando este amor conquistado é amor de verdade, não se modifica à fortes vendavais, ao contrário, é no sofrimento que mais eleva sua potencialidade de amar!...

O amor que vitaliza minha alma é sem limites! Amor maior que meu pequeno ser!... É esse amor que neutraliza em mim qualquer espécie de ódio que vem a querer aninhar no meu coração...

Em vez de mágoas, sinto pena de quem não sabe me amar da maneira que amo...

Se não me amas, tudo bem; amo-te com amor benevolente, sem mendigar o teu amor por mim!...

O SILÊNCIO AGORA

O silêncio agora é o melhor remédio de que preciso para revitalizar meu ser despedaçado...

Não quero saber se existem lágrimas no mundo,

Não as quero roubando minhas pernas...

Preciso delas para seguir...

Não sou tão forte assim para ser “escoria do mundo”

Minhas paredes são frágeis, ainda de giz...

Há muito na vida pra eu me consagrar vitorioso!

O Himalaia está à minha frente

E quero subir seguro à mão do meu melhor amigo...

NAMORAR

Passear os olhos nos olhos que se amam

Como o barquinho flutuante nas águas calmas de um oceano...

Assim, devagarzinho..., desbravando os mistérios para além da retina num entusiasmo único – a paixão!

Fazer carinho nos ombros e beijas de leve...

...de bem levinho como faz a neve na vidraça de uma casa aconchegante...

E num longo suspiro poético, cheio de saudades – mesmo pertinho – dizer que o seu amor é imensidade!...

Correr pelas ruas de mãos dadas..., presentear flores roubadas numa casa com jardim... – e sorrir...

Rolar na grama tolos de paixão sem se importar com os olhares dos que se olham criticando...

Tomar banho de purpurina extasiante de felicidade e depois...

... silenciar os corpos e os olhos num beijo de amor intensamente...

Amar como a primeira vez toda vez que amar...

Pois toda vez que se ama é a primeira no grande relógio do tempo que se move interruptivelmente...

SINTO-ME CANSADO

Um cansaço abate por sobre minhas pálpebras e eu...

Paralítico como estátua de um moço qualquer

Deixo-me uma mão sobre a outra e o “velho coração” – de três décadas

Bater macio no peito...

Ah, lembranças de algum tempo atrás...

Recordações de horas anteriores ao meu soluço empobrecido de esperança...

Disseram-me que a moça surgirá ao cais, pra eu ter paciência,

Pra eu ficar contando as jangadas que surgem sobre as vagas

Porque numa delas lá estará...

Ah, meu olhar de agora é tão sem esperança quanto

O olhar daquela moça aos vestígios do naufrágio

Em que perdera o namorado marinheiro...

CIRCUNSTÂNCIA

Só Deus sabe como me passo ao passado...

Passo por uma rua semi-escura...

Por um dia “daqueles”: “de cão” e..., no entanto

Como “as árvores de Cecília” me renovo!... – estou sempre me renovando...

Eu podia me encontrar com Clarice naquela rua

E com ela atravessar à confeitaria...

Podia ser eu o menino de sua caridade... – odiosa!

“um doce moça, compre um doce pra mim!”

Ah, eu bem que podia te dar uma rosa...

Espreitar-te ao meu peito e...

Dizer-te nos olhos o quanto de amor...

Mas não... Tu não mereces um espinho sequer.

Oh, mulher!... Fingida Camélia..., tu nada tens de Ofélia... – nem a loucura!

Me cura com “um beijo de Judas”!...

“Mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo...”

Não; não sou Raimundo, nem Drummond...

Sou qualquer coisa... – quem sabe um sábio que nada sabe.

Não se sabe ao certo o exato instante... (bum!) do Universo.

Se sabe versos diversos, derivados, deveres... – divã.

Mas nunca o Tudo.

“Meu amor..., sentia fome, pedi um biscoito a uma senhora do andar de cima...”

Senhoras caridosas ainda existem – elas não têm sexo.

Um cheiro, por favor, há um mendigo de amor...

Não!

Não... não... não...

ELA FECHOU A PORTA

Ela fechou a porta devagar pra não fazer barulho no coração...

Desanimou no percurso,

Desacreditou nas possibilidades...

Desatou sua mão da minha e, se foi...

Não; não quero que ela venha comigo sem antes deixar pra traz o medo das circunstancias...

Com o velho modo de pensar e dizer que em nosso caminho não há perspectiva...

Quero-a solta e livre acreditando comigo em vencer e construirmos juntos um castelo só nosso. – mesmo que este castelo seja uma casinha simples.

MORRO DE SAUDADES

Te espero na minha janela qual pequena menina de olhinhos mortos de saudades...

Morro de saudades..., e agora sei o que é o morrer assim.

Quando estava contigo não pensei que a distância pudesse existir...

E agora que sei não sou mais rei porque o sorriso é ausente...

Se eu pudesse te dar o abrigo do meu peito e te dizer nos olhos

nunca mais deixar partir...

Mas eu sempre soube que a vida, apesar de bonita, é dura de viver...

Vivo a querer teus dedos roçar meu rosto como parte do amor.

E no amor amar..., e no amar fazer brilhar nossa eterna estrela.

Chega pra mim..., meu coração te quer.

Me traga asas pra eu voar ao nosso amor.

GOLES DE SILÊNCIO

O silêncio tem essa coisa misteriosa de nos paralisar...

Impactante como os desenhos de Portinari!...

Um gole de silêncio nos faz pensar um mar de coisas...

Levam-nos a atravessar longitudes

E aproximá-las às proximidades da alma...

Amplitudes de meu Deus me mostre um verso

Pra eu dizer do silêncio que em horas

Faz-me fechado em mim mesmo!...

Goles de silêncio que tomo sem pressa

Antes ou depois de minhas refeições diárias...

São preces sem palavras! Orações consteladas!...

Quero não ter medo da morte que me chama descavernada...

Quero dizê-la infeliz, mal amada!...

Quero um dedo de prosa com meu bem essa noite

Esquecer que estou vivo, que sinto dores

Convidá-la a vir comigo sobre as reticências...

Quero o silêncio depois...

Não quero compreendê-lo, quero sentir...

O amor nunca é dito, mas sentido no silêncio dos corpos!...

ENQUANTO

Enquanto um amor novo não me chega vou escrevendo versos na areia, rabiscando paredes, suspirando aos olhares que me fazem bem... Devotando-os conscientemente de sua realidade...

Vou de saudades vivendo, fazendo dos meus amores passados; passados amores que já não são mais flores nos jardins de minhas primaveras!...

São esses amores idos fotografias velhas, guardadas para recordar...

Não são mais causa; são efeitos que já não feitiça mais meu ego...

Amores deixados em papéis... Sem melancolias mais! Amores que afagam e não mais ferem...

Sou livre! Um pássaro debruçado nas nuvens assuntando a vida correr sob suas asas...

Sou moço! Sem mais soluços noturnos... Pois sou sábio que num olhar novo, desses que me fazem bem, possa lá estar o reflexo do amor tão Ande que em meio peito vive a borbulhar!...

NÃO, NÃO MAIS...

Não vou deixar que perceba sequer uma lágrima tecer meu rosto frio, pálido...

Não quero que me veja mergulhado no puro vazio da alma... no tédio tremendo, na melancolia diária...

Não quero demonstrar no lábio um sorriso triste... – que todos os meus sorrisos, de agora por diante, sejam banhados na fonte mesma aonde se banha o arco-íris...

Não quero o amargo das noites solitárias – tão minhas – reveladas nas linhas de um poema a ti... A não ser o íntimo poema sem palavras manuscritas; apenas pensadas...

Não quero que saibas das dores que teus risos me trazem quando não posso ter-te comigo nas horas mais difíceis dos meus dias... Quero te levar flores no riso, mesmo que a primavera seja efêmera, e amanhã, talvez, não encontres à tua porta uma rosa deixada por mim...

Não serei mais o poeta a qualquer instante te fazer um verso novo, dizendo do teu cabelo a rejeitar meus dedos, dos teus olhos diamantinos, teus risos cativantes a enfeitiçar os meus, tua doce pele morena que desperta meu instinto masculino, fazendo-me desejar-te sempre, com loucura...

Não te contarei mais que sofro, pois não desejo que sintas a mesma melancolia que sinto na alma matando-me aos pouquinhos... Assim também não te direi mais ir embora... – porque me dizes sofrer –

Não te direi outra vez que te amo... Porque te amo!... E sabes... Amo cada célula do teu corpo vadeando meus olhos apaixonados... a penetrar na tua alma com a leveza do pássaro que no azul do céu de outono se perde por querer...

Não; não mais terei poemas novos, minha querida, até que uma alma me tome pela mão e me conduza consigo ao caminho eterno do amor... E esta alma queira viver comigo as loucuras de uma vida simples, que saibamos possuir o mundo sem sermos possuído por ele... Direcionados, sempre, a plenitude da verdade e do amor que, certamente, é eterno...

Não; não mais... Sei que é difícil suportar, mas tenho de suportar calmamente como um monge a contemplar o poente pela última vez de sua tão curta existência...

HUMORADO

Não quero saber como era o rosto de Cleópatra

Se era feia ou se era linda

Se tinha mesma lábios finos e nariz comprido...

Já estou curado vinte por cento;

Não quero saber se meu time ganha ou pede.

Já me basta torcer por mim mesmo

para eu vencer o meu enfermo;

Não quero olhar no relógio

Nem que me digam as horas;

Não quero que bulam no meu porta-retratos...

Quero que o deixe como está:

Assim me olhando... e eu a olhá-lo...

Não quero ouvir música nem piadas...

Não quero forçar o riso no lábio.

Cair na gargalhada...

Não quero chope nem “refri” nem suco e nem chá

Quero café - se tiver - uma xícara só.

Não quero o barulho dos autos, dos móveis na sala,

Dos pratos na pia...

Quero o silêncio pra eu ouvir o "cri-cri" dos grilos...

"Os poetas mortos" - como diz Quintana -

Não quero livros, folhetos, jornais...

Quero apenas ler o chão, as paredes, o teto

Os olhos lindos no retrato...

Não quero alongar o poema

Cansei do poema

Estou farto do poema - por hoje -

Quero dormir... Mas antes,

Um gole de água,

Por favor.

NUM RUMO QUALQUER

Silencioso, comigo, perco o olhar num rumo qualquer e

com ele (o silêncio) canto

uma música sem voz e instrumentos...

É o canto da saudade que talvez silencie

Todos os ruídos ao meu redor...

Meus amigos (quase todos) são comprados pelas circunstancias

São objetos do tempo que se move no êxtase do instante

São partículas do caos...

Repouso a mão no queixo, enxovalho os olhos e

Continuo mirando

lembrando

pensando...

O MOÇO TRISTE

Depois que o circo se fecha ele contrai o riso,

lava o rosto,

guarda na sua maletinha as cores para outra ocasião.

Seus sorrisos não eram falsificados – nunca os foram.

Quem sabe, qualquer dia desses,

a alegria resolva ficar definitivamente...

– junta ao moço triste...

ROMPENDO AS EQUAÇÕES

Anseio-me a encontrar palavras expressivas um tanto

que eu possa descrever-te...

O bico da caneta vadeia no papel enquanto

o pensamento corre a distância de um oceano

em frações bilionésimas de segundos...

Desafiando todas as Leis da física moderna,

Rompendo as equações matemáticas,

Quebrando velhos paradigmas, construindo novos e

justificando outros...

A Lei dos opostos que se atraem é perfeitamente a Lei que anima nossos corpos a querer estar perto... – bem pertinho.

Corpos que ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo...

Pois, nossa sintonia nos fazem um só corpo... – isto é grandioso!

Minha paixão por você é igual a saudade multiplicada ao quadrado da velocidade do meu pensamento...

Eu te amo!

FOGEM OS PONTEIROS

Do relógio fogem os ponteiros tiquetaqueando...

E o tempo descolora ao passado,

Deixam as páginas amareladas,

E os vagões vão se perdendo carregados de saudades...

Ah, moça! Dê-me tua mão, e tudo fica bem.

SILENCIOSOS

Ontem ela suspirava à poética que há em seu coração bonito.

Hoje, silenciosa, lá no interior daquele edifício...

Talvez seja o tempo que está frio e que adormece seus dedos belos...

A neve embaça a janela de onde ela olha a avenida iluminada pelas luzes dos carros apressados...

E olha com saudade do poeta distante...

[também silencioso]

Noutro canto deste mesmo universo.

ESSÊNCIA DO TEMPO

Saudade das bondades que se vão a passar na minha janela

Sem que eu possa reter no tempo presente que é meu...

Está passando... – o tempo!

Vagarosamente para alguns, e para outros, incrivelmente veloz...

Sei; essa importância com o tempo é natural ao ser poeta.

Às vezes nos parece brincar com as palavras, e no origami dos versos compomos poemas...

Mas não, estamos “loucos”, sedentos pelo tempo...

– somos apaixonados pela realidade!

Perdão meu Deus, se algum dia quis ser mais que Ti!

Não quero ser dono de nada, “quero viver, beber perfumes”...

Quero reter a essência do tempo – sua eternidade.

O BANQUETE SILENCIOSO

Na estante os livros não me falam, estão vazios...

Dante, Platão, Baudelaire...

São moços de frases confusas – apenas.

Monarquia, Fédro, O poema... (do haxixe)

Nada importa quando dos olhos em fuga a natureza...

Quando vislumbra somente incertezas...

Talvez um deles me ofereça a taça, o outro o vinho

E o outro se disponha a me servir...

E bebemos num banquete silencioso

Sem discurso algum...

Teorias, teoremas, trepidas línguas em pronunciar o pensamento...

O amor encerra em si mesmo embriagado no vinho.

Pernoitemos assim, recostados no colo da mesa...

– em silêncio.

AMO POR INTEIRO

Quando amo, me entrego ao oceano sem reservas...

Amando, as impossibilidades não me existem.

Assim como a Clarice, “não sei amar pela metade”

Amo de todo, por inteiro

O amor que o coração escolheu amar pra vida inteira...

CARTA POÉTICA

Minha querida, você sabe o quanto tempo faz que eu não te escrevo poemas...

Sei que tem notado, e talvez até com certa angustia, essa minha ausência nos versos...

Vivo de profundo silêncio poético.

E este silêncio é mais dinâmico que se eu estivesse a te escrever sequencialmente...

Estou a te viver e a contemplar dentro de mim com a mais perfeita comunhão...

A tua lembrança é doce, e adoça todo meu interior.

Nossa paixão é bela porque o amor que a conduz é sólido, e este amor não nasce de qualquer espécie de desejo, nasce do mistério do encontro sincero que se prolonga...

Nosso amor é fermentado com o querer das chamas que não se apagam nem mesmo na mais triste e solitária estação invernal...

Temos conhecimento de nossas situações adversas, nossas paixões complementares, que mesmo não sendo fontes de nossa vivência não deixam de ser necessárias as nossas responsabilidades.

Sei de tuas lutas e superações, e isto me traz um orgulho imenso, me faz ver que você é aquela parte feminina que tanto procura este moço que é poeta...

Sinto que me completa, porque me traz os mais belos predicados que pode haver em uma mulher essencialmente mulher.

Talvez isto explique a minha persistência em te querer tão somente minha.

A vida não é fácil, e bem sabemos disto.

A realidade muitas vezes dói porque ela vem sempre acompanhada com razões que nos roubam a animação, mas não somos seres condenados às razões, elas por vezes nos paralisam, isto é certo, mas não nos solidificam, porque o que nos movem é o amor, e o amor é maior que tudo.

Eu creio no amor que amamos! E mesmo que nossos caminhos não se encontrem, estarei certo de que contemplamos juntos e vivenciamos a pura essência poética de que os verdadeiros amantes são agraciados pela vida.

Eu te amo, minha doce mulher!

ADORMECE O GÊNIO

Estou entrando numa fase insegura... – ou talvez mais segura.

Onde me pareço adormecido o homem apaixonado.

Acho que foram os momentos breves de amar sem respostas

Ou talvez incerteza dos amores amados...

Os porquês me acodem do meu vazio e eu fico

Às vezes horas interligado ao pensamento... – sozinho em mim mesmo.

E tudo a minha volta é ausência...

E penso não amar outra por medo de sofrer

Os desígnios de uma paixão inglória...

Mas também não há esperança de amar...

Penso que já tomei todos os licores

Que já me embriaguei por demais...

Agora é curar-me e viver

A incerteza de encontrar a quem me surpreenda

Com maior encanto que o último dos amores.

Acho que já é alguma coisa ultrapassar

As piores revoltas do meu romantismo

Saindo-me sem o mesmo fim que o jovem Werther.

É último ato. Desçam as cortinas... Adormece o gênio.

O Poeta Baiano
Enviado por O Poeta Baiano em 06/02/2018
Reeditado em 06/02/2018
Código do texto: T6246649
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