Agudo... e outros turvos
Agudo é a tradução da poesia
No coração, um soluço
O bater do dia...
Agudo, quando as cores bailam na mente
E a loucura grita....
Agudo, nas águas ardentes
Os braços queimam .. as ondas teimam, como a vida,
O destino ceifa, na viagem/mente
E nós,
impotentes
agudo
Vi, venci... esqueci
Lutei??
Jurei??
Eu ri??
Juro que vi
No luto eu lutei
Na vitória eu esqueci
Voz morta
Escuto a música de gente morta
A voz ainda vive
Pelas memórias, nossas ânsias mórbidas
Ecoam os seus timbres tristes
A matéria humana e os seus fios,
Suas veias de sonhos metálicos,
A voz canta e resiste
Elétrica existência,
Que despreza calendários
Penso no tempo em que viviam
Em suas batalhas, solitários...
No tempo em que cantavam
No que pensavam?? Que futuro queriam?!
A voz morta
Que ainda vive
Quando choravam,
Agora, é o eco de uma vida
Que vive por nossa tristeza
nostálgica
Promessa
A eternidade é a perfeição
A eternidade é uma promessa
Antes do universo
Antes da vida,
corrida contra o tempo,
contra si mesma,
Antes de haver um antes, houve um sempre
Que se ouve sempre,
A promessa de uma eternidade
Que um dia não haverão mais dias
Que será o último
Sem mais noites, ciclos ou verdades
A noite é uma morte
A morte é uma noite
Que se esconde nas sombras do dia
E de tarde enquanto eu dormia
Às sombras, escurece
O sol mais intenso morria
Os meus olhos sorriam
Ao céu, os últimos raios que agradece...
Os meus lábios fechados
Antes do dia nascer
Eu olhei
Para o céu, antes do dourado
Pra mim, antes de acordado
Para os dedos que não são meus
Que estão em minhas mãos
Auto consciência
Quando a alma estranha o próprio destino
A própria roupa (cultura), sua indecência
Mas nunca, a própria confusão
Caminhada... De fim de madrugada
Um sonho me acorda,
São quatro patas
Branquinhas, pedintes,
Querem a liberdade do quintal
Ou das ruas vagas,
Querem caminhar
No fim de madrugada,
Eu abro a porta
E em pensamento
Lhe peço por sua proteção,
Peço, que seu deus instinto
Sempre lhe dê a mão,
Quando atravessa ruas
Sobe decidas
Caça sozinha
Às escondidas
Minha breve vampirinha
Prelúdio do fim
A melancolia,
Quando o sim abraça o não.. bem forte
Quando o são abraça o louco
Numa camisa de força...
À sociedade sempre rouca
De tanto gritar
De tantos músculos e dentes, a mostrar
De tantos fracotes, que sonham acordados
como artistas
Quando o prelúdio abraça o fim
Quando o berço é o cemitério
A melancolia
A sombra que sempre povoa os nossos mistérios
De noite e de dia
Narciso ou nascido
Quem se apaixona pelo próprio espelho
Comovido
Narciso, sem ter nascido
É o seu próprio filho
único e primeiro
Que ama e cuida
No suicídio, no aborto do próprio rito
Se todo brilho, termina em si mesmo
Por sua eterna infância, não há culpa
A larva do narciso
De joelhos, se elegeu o próprio mito
Rei da ignorância
Poema ou poesia
Antes de concluir
Antes do ponto final,
Antes de entender, o mito
Antes do fim da chuva, a chuva
Antes do prejuízo, a dúvida
Entre as linhas dos novelos
Entre os desejos
Durante o toque dos dedos
Entre o destino e o medo
Vem a poesia,
o segredo de nunca terminar
A noite
Não deixa respirar o dia
Mata sua luz
Se arrepende, suicida
No silêncio de suas sombras
Um punhal em suas costas
Vira cinzas com o calor do sol
Volta a dormir
E no fim da tarde, a corda
Um novo crime
Uma nova noite
Plenitude
E todas as emoções se unem
Na pureza de existir
Formando apenas uma nuvem
De sentir a vida
E nada mais...
Homenagem corrida à música Mahler adagieto quinta
Cultura
As mãos de pelúcia
Parecem mãos verdadeiras
Massageiam o bebê
Refém nascido
Lhe fazem carinho
Lhe dão de beber
Mas é astúcia
Na brincadeira
Pobre mamífero
Tens o seu destino nas mãos de Ícaro
Pensa que é sua mãe
O rosto não vê, apenas as mãos peludas
Mas é uma mulher humana,
Pensa que são naturais
Mas são mãos insanas, garras sujas
Que se perderam do caminho
E nos mantém presos, em seu limbo
Mas também temos olhos de bebê