Autodefesa
Guarda a claridade das palavras
que a poesia é testemunha incerta
e o pensamento é corpo estendido
no vazio de um olhar qualquer.
Percorra o rio ou as lágrimas
quando suas margens são verbos
que transbordam a gênese líquida
das dores do mundo.
Desabita a página
que o princípio do baldio
é acumular impurezas e sufocar enganos,
há muita ternura nas desimportâncias.
Traduz o gesto que inflama a flor
a identidade do perfume
tem ébrio e fugaz encanto
e a alcoólica exaustão da cor
Liberta o sangue das veias
que escorre às entranhas,
dá voz ao silêncio, reconheça
que a autodefesa do poeta
é desinventar saberes.