DECADÊNCIA

Hoteis espeluncas,
cortiços embolorados,
cinemas invadidos pelos sem tetos,
da janela entreaberta o poeta vê o caos,
região em  decadência
Praça da República,
Largo do Arouche,
Av São João,
Av Rio Branco,
Largo do Paissandu,
Praça da Sé
Praça João Mendes,
traças devorando poemas,
esquecidos nos sebos
calçadas albergues
amontoando bactérias,
e filhos deserdados,
sufocados pelas impossibilidades.
O poeta desolado,
sente a ausencia da poesia,
sente o impacto da pedra,
nas pedradas do crack,
nas ruas decadentes,
cúmplices dos sonhos,
ninguém vê lágrimas,
revoltas, desesperos,
meninos adormecidos,
sob as marquises da movimentada
Praça Ramos de Azevedo,
revelam o esplendor,
do Teatro Municipal,
exibindo cotidianamente,
sua comédia humana,
que nos palcos,
fétidos do centro,
de São Paulo,
se interpreta despudoradamente,
cruelmente,
sem orquestras,
sem cantos,
sem platéias,
sem poesia.