SAUDADES E LEMBRANÇAS - Livro completo

Autor: Agnaldo Tavares Gomes

APRESENTAÇÃO:

Tive a honra de ler de um fantástico filosofo uma das mais geniais frases: “Saudade é amor na ausência”. Não há quem não deixe os olhos debruçados na janela da saudade quando tomado por boas lembranças... E não é preciso estar diante da velhice do corpo para admirar esta beatitude da alma... Todos nós que amamos sentimos no peito um aperto àqueles que por um motivo teve de deixar-nos por momentos breves ou para sempre no cais da saudade... A saudade é uma oração em preces à pessoa amada... A poetisa de olhos tristes – tão lindos! A atriz de sorriso meigo – simples! A morena perfumada, que mesmo de sandálias e de cabelos despenteados acho linda! Todas elas com seu jeitinho impar de conquistar os versos suspirados deste coração que escolheu na vida o ofício de compor poemas...

(As poesias que compõem este livro foram escritas em 2010.)

DEDICATÓRIA:

Dedico este livro as pessoas que me conforta a alma

na simples lembrança...

E que me traz saudade ao coração.

“A casa da saudade chama-se memória:

é uma cabana pequenina a um canto do coração."

(Coelho Neto)

SAUDADES E LEMBRANÇAS

Já não quero mais lembrar você

Porque lembrar você é morrer duas vezes...

Além de sentir pena de ti que morres sem mim

Sinto de mim pena porque morro sem você...

E tantas vidas já se foram...

E tantas vezes já morri...

Tantas vezes a tive em meus braços

Ao hálito último - a morrer...

Morro e sempre renasço...

Sempre me renovo contigo

Porque há necessidade em mim em viver...

Porque há necessidade que viva...

O amor que não pode ser, é

Uma realidade que contemplo

Sabendo que contemplas de olhar igual

Ao meu olhar cheio de saudades e lembranças...

SE TU QUISERES

Quero viver contigo sob o mesmo teto

À mesma mesa sentar-me contigo

E contigo na mesma cama deitar...

Quero sorrir como sorris ao espelho

Um daqueles sorrisos dramaturgos

Quando teu pensar, minha querida,

É o pensar em mim... Apaixonada!...

Quero te abraçar a mão a mão minha

E levar-me contigo por ai... Pela vida!

Essa grande jornada –“sinfonia inacabada...”

Quero, mas... Se tu quiseres, querida.

SE QUISER IR À PARIS

Se quiser vir comigo, vem agora,

E vamos galgar nossa história numa estrada simples... – e feliz!

Vamos contemplar flores sem se preocupar com os dias...

Tudo proverá o amor!

Mas oh, não espere de mim rei pra ser rainha.

Talvez me torne diferente do que sou agora

E te queira por meretriz e não por senhora.

Se quiser ir à Paris, vem comigo à realidade.

Meu bem, Paris é um sonho, o amor é que é real!

SE VIER COMIGO

Se vier comigo, deixa o trigo

Que o pão lhe trago... – confia em mim.

Deixa teu braço laçar meu braço;

Teu passo ao meu passo...

E, se sentir cansaço,

Verás que valera a pena

Tantos anos neste compasso.

A PARTE FEMININA QUE ME COMPLETA

Se mesmo vier, deve ser simples como as flores,

Controlar teu ego de possuir coisas

Pois, adianto-te, não me elevarei a certa altura...

Os meus sonhos são singulares – nada absurdos.

Meus passos são calmos, medidos,

Sei por onde corre as águas do meu rio...

Tem de ser serena e compreensível

Se quiseres o poema mais doce dos poemas!

Ver além das coisas, a alma delas.

Pois, quero uma mulher, e não um objeto;

Não pra desfrutar; quero amar!

Cumplicimente andarmos de mãos dadas...

Não espero que sejas perfeita,

Uma santa posta no altar...

Mas uma fiel companheira – exemplar.

Uma mulher que seja realmente

A parte feminina que me completa!

O TRIGO AO PÃO

Pena que o amor verdadeiro é rejeitado... (quase sempre)

Em seus olhos o amor borbulhou

Quis saltar-se para mim...

Mas, tu não acreditaste no meu sorriso,

Renegastes o pão preferindo ao trigo...

Pena que o amor verdadeiro é eclipsado...

Em meus olhos o amor encantou,

Quis saltar-se para ti...

Mas, tu não aceitaste o meu braço,

Preferindo a outro que ao meu compasso...

TUDO BEM

Não veio comigo... – não pode – tudo bem,

Vou eu sozinho, e encontro forças na lembrança de ti...

Forte a mais forte muralha contra os desígnios da vida;

A mais linda rosa em meio às cinzas...

Tu vences; eu... vou vivendo...

E acredito que isso também é vencer!

RECORDAÇÕES

...e quando tocava teus ombros,

era ali a única maneira que encontrava de expressar

meu amor sempre a crescer...

Recordações me trazem a ausência de ti...

Ando distraído, só, pelos cantos, pensando...

Mendigando perfumes nalgum objeto

Por onde tenhas corrido teus longos dedos... – tão belos.

Teus olhares... Teus sorrisos... Teu calor...

Tudo submete meu ser a ti... E corro

Pra distante corro... Qual fugido condor

Foge às mais altas montanhas ao exílio...

Mas, miragens me trazem ao abismo.

Vejo teu rosto calmo, num sorriso lindo!

Em cada espelho que me olho rindo...

Suspiros violentos me sangra o peito.

E eu, com meu olhar distante, distraído,

Contemplo tua sombra esvaindo

Por entre as folhagens tangidas pelo vento...

TARDES DE OUTONO

Olhos parados no último outono...

Eu era menos triste – um pouco feliz

Em minha face transluzia uma luz amarelada...

Era fim de tarde, e eu sabia.

E aquele outono, aquele fim de tarde

Trazia-me o céu azul e estrelado

Eu contava estrelas com o pensamento – sozinho

E sozinho eu ria como um louco em transe

Tresloucado eu ria...

Ai, saudades do impossível de haver!...

Dos vagos instantes, das utopias

Sei que não devia, mas tenho saudades

Das tardes de outono, da melancolia.

FOGEM OS PONTEIROS

Do relógio fogem os ponteiros tiquetaqueando...

E o tempo descolora ao passado,

Deixam as páginas amareladas,

E os vagões vão se perdendo carregados de saudades...

Ah, moça! Dê-me tua mão, e tudo fica bem.

FLOR DA TEMPERANÇA

Melhor contemplar a serenidade em nossa face...

Deixar o tempo dizer por nós.

Sem forçar o coração ao desejo do primeiro toque,

Do primeiro beijo...

O tempo é quem dita os dias e as horas

Com seus minutos e segundos intermináveis!...

Deixa que vá por águas plácidas

Nosso barquinho de sonhos e desejos...

Pra quê ter pressa se o que tiver de ser o será?!...

Há um fator circunstancial entre nós dois: a Vida!

Algo novo nasce sem malicia como a flor na brisa...

Algo sem selvageria – inocentemente...

E bem mais humano que animal.

E é este algo que resiste a dias tempestuosos...

Afinal, o que fica depois de tudo é o amor.

E o amor é além de tudo... – é Ele o Tudo!

O fruto essencial da flor da temperança.

ELA

Nalgum canto ela passa...

e eu canto a canção dos olhos dela – no meu canto.

Eu tonto de paixão por ela

me atiro num poema à janela

de qualquer avião que passa.

Talvez lá esteja fazendo pirraça...

Nalgum canto ela dança, e eu assovio

um assovio ora feliz, ora triste – e ela chora...

Ela chora tão lindinho que parece uma menininha

chorando à boneca que perdera o braço.

Sei que ela não é tão menininha assim, mas é jovem.

É a jovem mais perfeitinha e linda de minha juventude.

Nalgum canto ela vive sem mim, e eu,

no meu canto tento viver sem ela.

ACREDITO EM TEUS OLHOS

Acredito em teus olhos mesmo que a distância tenha

a ousadia de nos querer a quilômetros...

Acredito porque uma vez olhando-te me vi dentro dos olhos teus... – dali ao coração, só alguns centésimos. (me apaixonei)

Acredito também porque não existe sujeito, poeta ou não poeta que não se apaixone em olhar-te...

Todos que te olham ficam assim iguais a mim:

bobos de repente...

Perigo um desses sujeitos parado no meio de uma avenida movimentada...

Acredito em teus olhos não só porque são lindos,

Mas também porque são lindos mesmos!

Neles têm aquilo que os outros não têm.

Não me pergunte o quê, seria eu suspeito em dizer...

Acredito em teus olhos por ser duas estrelinhas que vivem a piscar aos meus...

Isso quando te vejo ou te imagino igualzinha naquela fotografia:

As mãos ao rosto e os olhos para bem distantes...

Num pensamento que desejo ser eu.

Acredito em teus olhos e irei acreditar sempre a cada novo olhar que deixares na direção de mim...

E eu – pobre poeta – com o coração nas mãos.

PROMETO-TE

Prometo-te amor eterno se você for minha

Amor tão grande que nem sei como cabe em mim...

Prometo-te sexo todos os dias

Sexo com carinho, só assim é bom – poesia.

Prometo-te todo finzinho de tarde passear contigo de mãos dadas...

Se não houver praia, serve a praça (afinal, a praça é dos namorados).

Prometo-te muitos risos...

Se for preciso, me visto de palhaço, pinto o rosto e

ainda dou cambalhotas no calçadão...

Prometo-te um feriado toda semana

Sem contar os sábados e domingos que já são sagrados.

E neste dia fazer-te mil poesias!...

Prometo-te fechar as cortinas quando a noite for pequena pra tanto amor...

Prometo-te, enfim,

todos os dias o pão na mesa (quentinho)

e o poema feito por mim.

EM VULTOS E MIRAGENS

Pelos cantos vou... E vou

Mendigando um sorriso teu...

E encontro nada mais que

Vultos, miragens de você...

Pela vida chorando

Como todo humano ser...

Trazendo um riso triste

Em vultos, miragens de você...

Nem sei quem sou na verdade

Se o poeta ou se o moço ator

Trazendo no lábio amargor

Em vultos, miragens de você...

Esboço teu corpo no pensar

E sinto teu cheiro, teu calor...

Tua voz tremula a querer

Um novo poema de amor...

Mas, em face ao ideal é apenas sonho

Vultos, miragens de você...

Sei; teu olhar olha agora

Outra face olhar-te com outros olhos

E eu (pobre ser)

Em vultos e miragens de você...

ALMA POETA

Quando uma alma sobressai

Por entre milhares e bilhões de almas

E esta vem a caminho de outra

Torna-se ela alma queria.

Então a poesia despetala versos

Perfumados, amorosos...

Então um riso faz-se colorido

Da face desta...

Que é também poeta.

O SOL DA VIDA SIMPLES

O tempo sempre a correr por entre meus dedos curtos...

Não sei se devo ter pressa, mas sinto pressa

Tenho de buscar lá fora meus desejos doces

Mesmo que a amargura das circunstâncias me deprima...

Não sei se me comporto egoisticamente vil, mas...

Quero apenas enxergar o sol da vida simples e plena

Sob as abas do chapéu de minha curta existência

Não além dos passos que ainda ensaio a dança...

Enxertar minha alma numa outra alma... – bela!

Viver assim: um poema alegre

Sem o ódio que paralisa e gela;

Sem o medo que aprisiona e fere...

Ah!... Eu quero viver... Quero amar!

Simplesmente amar... – mais nada.

Seguir por entre as pedras da estrada...

Vencer a fúria do bravo mar.

Sei, a caminho do meu saara, qual percorro

Uma alma graciosa espera minha alma

Qual traz nos olhos a melodia suave

Que só os anjos e arcanjos possuem a flauta...

– esta flauta mágica!

DOIS BOBOS

Quando sorriamos juntos éramos dois bobos...

Eu e Ela: dois bobos!

E era assim que éramos felizes

E era assim que amávamos e odiávamos

as mesmas coisas bobas da vida.

Éramos dois gatos no telhado se rasgando por inteiro...

Ela, a gatinha dos olhos castanhos,

lindos até de mais para uma gatinha que me amava e suportava todas as minhas tolices...

Eu, o gato mais bobo dos gatos. O mais apaixonado!...

Orgulhoso por amar a gatinha mais gata daqueles telhados...

Éramos sim felizes – bobos de amor.

SUBSTANCIALMENTE

Penso em ti desvairadamente... – a todo instante.

Tu és substancialmente o ar que respiro... O delírio

Que me toma a lucidez... Faz-me louco!

A desenhar teu rosto nos de outras moças...

Outras moças que não me causam nada que

Um olhar comum na multidão frenética...

Moças indesejadas, perto das quais

Sou um místico à contemplar o poente...

Tu és substancialmente a água da fonte...

Não me sacio de ti, te quero sempre!

Tu és o desejo que me possui a alma

O “querer mais que bem querer”...

Longe de ti sou qualquer coisa que

Um grande vazio, um vácuo no universo.

Meus versos sem ti são versos... – apenas

Contigo, suspiros de amor!... – poemas.

Substancialmente tu és o que preciso.

UM MELHOR POETA

Sei que não tenho sido um melhor poeta...

Juro que tenho me esforçado – e muito.

Talvez, meus poemas tenham sido pobres de você.

Acho que seria pior se eu morresse amanhã...

E ainda pior se eu morresse antes das seis

Sem acompanhar contigo o nascer do sol,

Sem dizer em teus olhos o quanto “te amo”!

Talvez fosse melhor se eu morresse caducando

Depois de viver na tua vida inteirinha,

Mesmo que ainda jamais te seja

Um melhor poeta.

BUSCO-TE

Busco-te numa estrela perdida por trás da lua...

Busco-te qual um vagabundo à noite na rua...

Busco-te num cálice de vinho que trago às mãos...

Busco-te no olho avermelhado de uma prostituta qualquer...

Busco-te no chão que piso sem saber se jaz

Nalguma cova ali perto...

Nalguma estrela enterrada na areia de algum planeta...

Busco-te incansável...

E assim, buscando-te, continuo...

Porque tu que me ensinastes o que é ter esperança.

O ANJO DA NOITE

O som do violão negro no pensamento eu ouço

E vejo a menina passar com passos, calma...

Ela vai soletrando versos à rua escura

Atenta aos acordes do instrumento com alma...

Vai como astros à noite saltam

No ritmo da canção compassadamente...

Em lindos arabescos clareia o céu

Como em prata no lençol da noite...

E a menina sorri demorada, em festa

Sentindo no peito o gênio poema

Pulsando e vibrando ao coração poeta

Na mansidão noturna de uma noite sem lua...

E assim pela rua serena continua

A soletrar seus versos à poesia

Ao negro violão que trazes aos braços

O anjo da noite que à menina preludia...

ÚNICO VERSO DE AMOR

Que me prende a olhar-te

Desta maneira serena

Fazer-me ridículo

Um bobo poeta

Contar-te sentimentos

Na prosa de um poema?

Desejo-te menina

Desejo e não nego

Tocar tua pele

Com os lábios meus

Virgens dos teus...

Quando na tua ausência

Meu coração chora

Em vão minha mão recata

Tua miragem lá fora...

Por tantas noites... – tantas

Fiz companhia à lua

Adormecendo em lençóis frios

Em lembranças e saudades tua...

Não mais devo te amar

Da maneira que amo.

Não serás minha

Nem serei de ti

Pois, talvez medo de sofrer...

De tudo, te peço uma coisa:

Deixa-me viver contigo

Nem que for apenas num poema

Único verso de amor.

QUANDO EU FOR

“A tragédia me faz rir, a comédia me faz chorar,

E o drama? Nem rir, nem chorar...”

(Carnioli)

Quando eu for, estarás comigo

E eu contigo – no pensamento.

Sempre a morena perfumada, de riso lindo, olhar doce.

Eu, comediante, dramaturgo, trágico...

O palhaço que te fez rir

O homem que te fez pensar

E o poeta – ao partir – te faz chorar...

SEREIA MORENA

Com uma flor nos cabelos ela sorrir...

– não me pergunte para quem.

Com uma flor nos cabelos ela é linda!

– sem a flor também.

Com uma flor nos cabelos ela olha o infinito...

– e tão bonitinho.

Com uma flor nos cabelos ela me diz algo...

– algo que eu não sei dizer.

Com uma flor nos cabelos ela parece uma sereia...

– por que uma sereia?...

É verdade... Todas as sereias que me disseram existir

eram loiras,

Mas nunca uma delas eu pode ver...

A única sereia realmente que eu conheço

Tem olhos e cabelos negros... – e é morena!

Ah! E guarda nos cabelos uma flor.

MAIS FORTE EM PERDER

Sem magoas vou pela vida

Assoprando as folhas no meu caminho...

– folhas secas do último outono.

Se eu perco algo aqui, ganho ali...

Não sou um perdedor vicioso – sou mero aprendiz.

Em perder sou mais forte... Pois,

Perder nada mais é que viver! – e viver é a grande síntese.

Nem tudo se ganha na vida,

Perde-se também.

Desde criança perdi muito e ganhei tanto

Chorei tantas lágrimas e ri muitos risos...

– no entanto: triste e feliz.

Pensei perder a vontade de viver quando

Perdia o riso do palhaço no meu próprio espelho...

Mas sempre há uma fonte onde se lava o rosto...

Há sempre um circo novo em que se encontra a alegria!

INFINITO QUE NOS CABE

Abraça-me devagar, deixa teu ser prender-se a mim,

Teus longos cabelos nos afagos meus...

Nossas almas se encontrar,

Fundir como dois faróis na escuridão...

Não há crime quando se amam verdadeiramente...

Crime é deixar o amor passar sem acontecer.

Que queres na verdade: as migalhas da vida breve

Ou pão da vida longa?

Que preferes?...

Sei; não te posso levar comigo para além do desconhecido...

Que um porto nos separa nossas almas nalgum fim...

Mas, enquanto não, me leva contigo ao infinito que nos cabe...

E assim, juntos, faremos do aquém, nossa casa breve

Com flores coloridas na janela.

AMAR-TE DE AMOR

Que mais um poeta pode compor a sua Musa

Senão um beijo de amor num papel abstrato

Onde esboça seu corpo tão bem comportado...

Onde quero morrer meus lábios senão na tua pele

Desvendando os mistérios de tuas curvas

Em beijos de amor à eternidade...

Sei que a vida é breve... – e como é breve!

Mas pode ser infinita nas brevidades

Nos instantes de amor em braços amados...

Quero amar-te Musa sonhada!...

Amar-te não só de desejos,

Mas amar-te de amor! (e não existe mais belo pleonasmo)

PORQUE SEI AMAR

Hoje sem sol, tedioso...

Amanhã – quem sabe – um girassol resolve

Olhar à minha janela...

Daí eu perceba que a vida é tão bela!

E não melancolia,

Mas poesia dinâmica...

Meus amores idos se foram porque tinham de ir...

Tinham compromissos, paixões outras.

Eu, sem amor, sem ódio, sobrevivo

Porque sei amar a quem nunca me soube...

TEMPO DE PARTIR

É tempo de partir! Meu olhar todo despedida...

Passo vago pelas coisas acariciando-as

Trazendo-as bem mais perto do peito

A embalar ao coração humano...

Adeus amigos! – diz meu olhar adivinho.

Adeus mulheres que amei! Última paixão,

Alma virgem dos meus beijos,

Dona dos meus suspiros de amor enlouquecidos...

Adeus passos curtos que vão ficando pelas ruas...

Folhas do outono que me brindastes um ruído...

É tempo... Tempo de partir!...

Quem sabe haverá regresso – quem sabe um dia.

Adeus mãos que me acenam lenços brancos...

Lágrimas que por mim caem num triste pranto...

É tempo! E é inevitável...

O barco espera de velas hasteadas,

As vagas varrem para além da praia...

Adeus perfumes... Flores de cores tantas... Adeus!

É tempo... Tempo de partir...

Almejo o horizonte

Só vejo caminhos a percorrer...

– novas liberdades em braços outros.

Tempo de juntar as coisas: os livros lidos e os por serem lidos...

Os poemas já escritos e os nãos escritos... Adeus!

TEMO POR TI

Teus olhos jamais serão

As pérolas encantadas que tanto busco.

Serão apenas pedras comuns... – nada mais.

Temo por ti, ser tarde... – e muito tarde.

Se por ventura descobrires que são meus olhos

Teu amparo, teu exílio, último cais...

Enquanto não, estou por aí ainda o mesmo,

Aquele peregrino moço suspirando versos

Falando a sós, interrogando a si mesmo, caducando...

O borbulhar de outros diamantes vejo...

Novos versos suspira meu peito,

Minha alma ao versejo...

Mais uma vez, temo por ti...

Sei ser forte na frustração diária – acredito ser.

Não te quero uma lágrima tecer no rosto...

Queria que fosses minha... – tão minha.

Se não, como lhes disse: deixo-te por amor

E sigo a rua deserta... – sem ti.

NADA SEI DE MAR

O poeta pobre sem teto e sem carro...

O tempo largo, o poeta jovem.

Camarada, estamos no mesmo impasse!

Só amei mulheres que me amastes,

Mais amastes o “ter” que o “ser”... – e eu tenho nada.

Dei meu braço, renegastes,

Quisera viver de fantasias... – e eu tinha apenas poesias.

Camarada, estamos no mesmo barco!

Minha amada não tem lar,

Tem um sorriso que acredita em mim...

Ama o que sou – e eu sou muito.

Confio em ti, camarada de sandálias,

Eu que nada sei de mar.

ÚLTIMA INOCÊNCIA

Quero retornar-me à janela da última inocência,

Recontar estrelas de olhar pasmado

Rindo como bobo daquela despencada...

Quero renascer,

Rebrincar,

Reapaixonar pela vida!

Reescrever na face do tempo minha própria história.

APRENDIZ DE POETA

As lágrimas se foram todas

Ficaram recordações de uma tarde fria.

Agora sou outro

Mais sábio que ontem.

Envelheço, mas o mesmo moço

E a cada passo que vou pela rua

Escrevo uma letra na minha existência.

Eu, aprendiz de poeta

Que jamais fui senão humano ser

Em desertos solitários dentro de mim.

Lágrimas que me rolaste na face

Levando minha dor

Soluços de amor.

Ontem quase morto

Hoje outro moço

Renovo.

O POETA RENASCE

Quando todos os versos parecem emudecer

Eis que ressurgem à luz do amanhecer

Um poema novo de uma beleza universal.

Eis que o poeta dado por morto renasce

Com mais vigor ainda, a alma plácida.

Porque ele, mesmo não sabendo o que é amar, ama...

MINHA BIOGRAFIA DE AMOR

Se me contasse o segredo nos teus olhos enquanto

Tenho no peito o coração a suspirar de amor,

Poderia conservar-te na minha biografia – a maior das paixões.

Mas se tu me escondes algum segredo de amor,

Retiras-te a ti mesma da história do poeta

E perde-se como qualquer na estrada sem regresso...

O amor sem reciprocidade não tem raízes,

Morre prematuro antes do florir...

Não quero – se existe amor – ignorar-te em mim.

Conta-me o segredo dos teus olhos que juro – juro mesmo!

Guardar-te comigo no livro que ainda escrevo...

A tinta fresca e o papel virgem

Aguarda gravar teu nome na minha biografia.

UMA CENA FELIZ

Vem sem medo

Vem sorrindo

tomo-te nos braços

e faço-te do peito

teu ninho.

Recebo-te sem medo

e sem receio

te agarro com jeito

te beijo

e faço meu ninho

no teu seio.

Vem a mim que vou a ti

Eu me entrego a você

Tu te entregas a mim...

E fim.

MAU HUMOR BEM HUMORADO

Não quero o tédio de ficar sem cais

Nunca mais eu quero chorar em vão

Não tenho coração pra ser capacho

Sempre que me perco me acho...

Não sou escravo de nenhum objeto

Sou muito esperto pra vencer derrotas

Não dou as costas pra desconfiança

Não sou de briga

Mas se vier eu topo.

Uma coisa que me detesta

É esta pressa que dá na gente

De viver o presente sem reparar nas cores

Sacrificar amores por pormenores...

Sou muito macho pra não ser machista

Detesto artista convencido

Poema dadaísta

Mulher metida

Homem sem caráter.

Mas, se quer realmente ser meu amigo

É muito fácil:

Sejas comigo o que queres que eu seja contigo!

VIVER – À MANEIRA CASTRO ALVES

“Oh! Eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre que embalsama os ares”

(Castro Alves)

Brindar a sorte na taça da vida... – Viver!

Dizer à morte que morra, mas que morra sozinha

Na sua solidão triste – eterna velhice...

A vida é uma orquestra! – “sinfonia inacabada”...

Poesia dos mares, dos céus, dos ares...

A mais bela obra da Criação.

Morrer jamais! Jamais morrer...

Viver sempre! Sempre viver...

“Beber perfumes na flor silvestre que embalsama os ares”

Viver! Cantar! Amar intensamente...

Ser amor a todo instante – sem brevidade.

Beber no seio da vida os versos mais doces

Embalar no seu calor o coração pulsante

Sempre a pulsar – a pulsar de amor...

Viver sempre! Sempre viver – infinitamente...

VERSOS SEM PALAVRAS

Não quero mais compor melancolias

Viver no pessimismo de uma vida inglória

Quero a melodia dos pássaros

Das flores a poesia...

Quero a mulher que seja minha – só minha.

A outra parte que me completa

Que faz me sentir mais poeta...

Não quero cerveja quente nem fria

Ler fuxico, política, piada...

Quero estar só, no meu canto, sossegado,

Poetizando meus versos sem palavras...

RECOMEÇAR

É tempo de colher o riso na árvore da vida...

Regar as flores, sorrir às montanhas...

É tempo de cantar bem alto o canto dos alecrins...

Aplaudir os cisnes, alimentar aos pombos...

É tempo de lavar na fonte o rosto sujo...

Caminhar silencioso, de braços livres...

É tempo de correr as cortinas no abrir...

Olhar os girassóis, cumprimentar o sol se pôr...

Tempo de assoviar aos pássaros nos galhos...

Saudar as flores, agradecer aos rios...

É tempo de construir uma nova muralha...

Um alicerce mais sólido a uma casa mais firme...

É Tempo de recolher num canto, reconhecer os erros, sentir mais livre...

Tempo de reorganizar, reconstruir, recomeçar!

DE TODAS QUE AMEI

Quando está frio, tenho o costume de esfregar uma mão à outra...

E sempre que faço isso, lembro-me dela sorrindo e me dizendo:

“até parece que assim se aquecerás” Sempre será ela na minha memória a expressão de mulher mais sublime!... Presente no meu coração mais que sempre. Hoje sou o que na verdade sou graças ao carinho, a compreensão, o amor sempre sincero a este amigo poeta!

No silêncio do meu quarto apenas se ouve o tic-tac do relógio de cabeceira...

E a velha canção no meu peito... (vinte e poucos anos atuante)

Ora num ritmo acelerado como um rock-and-roll: sons de guitarras extasiadas!...

Ora numa sutileza de valsa: movimentos lentos... – perfeitos!

Em que por mais que se põem os ouvidos de encontro ao chão não se ouve o barulho dos passos,

Pois não há barulho algum...

Dançar uma valsa é estar nas nuvens

E estar nas nuvens é estar no espaço

E neste movimento, neste ritmo desacelerado que a música em meu peito vive agora...

A razão é certa lembrança de certa mulher que amei...

– e não posso negar que a amo.

Sou louco por ela! – uma loucura doce.

Ela, não talvez, mas sim, é a mulher mais perfeita de todas que amei...

Cujos olhos são diamantes,

linda por dentro e por fora, por todos os lados, todos os poros.

– e eu, bobo, pensei não existir.

Mas ela existe! E está tão distante de mim...

Talvez o destino não nos queiram juntos de tão perfeitos que podíamos ser.

ENQUANTO VOCÊ NÃO ME CHEGA

Enquanto você não me chega vou escrevendo poemas,

Pela casa suspirando versos pelos cantos

Ocupando os espaços vazios com minha poética...

Às vezes vou à janela, não para tragar um cigarro, pois não fumo, e tu sabes que não,

Mas, tragar um pouco da lua que, às vezes, teimosa se oculta a uma nuvem; restam-me as estrelas...

E o tempo todo longe, sozinho, perdido em meio às estrelas...

E o tempo inteiro perto, contigo, encontrado em braços amigos...

E à busca da poesia no silêncio,

No puro encontro com os astros cadentes, taciturnos, persisto...

Tateio levemente os móveis

Buscando algum vestígio que tenha ficado de você sob o pó que se ajunta...

E não encontro sequer por toda casa um cílio do teu olho tão doce...

De uma meiguice infinita... – bela!

Então, sem remédio prá tanto tédio,

Estreito o travesseiro ao peito e ali permaneço, e durmo em longas preces devotadas a ti, minha querida!

ESBOÇO

Não tenho pressa em dar-te a mão... Pois

Tu virás num dia desses em que o sol

Abrir seus raios firmes por sobre as coisas...

Tu me virás tão moça, bem mais linda que o esboço

Que rabisco no papal abstrato do pensamento...

Tu serás tão minha quanto eu serei de ti:

Duas almas prendidas num elo duradouro...

Eu, talvez já saiba teu rosto, a cor de tua pele,

Teus cabelos, teus olhos e tudo mais...

Talvez já tenha escutado o som dos teus risos,

Teus passos aproximando a mim...

Talvez conheça o teu perfume...

Mas, não me importa, não tenho pressa,

Espero-te calmo, de coração sereno,

O tempo que for...

Porque confio em ti.

UMA SAUDADE

Quando fecho os olhos gosto de vê-la assim: do meu lado, lendo o poema que a fiz... – o qual trazia dentro do livro, e a entreguei – criticando o primeiro verso, dizendo de mim exagerado quando falo que seus olhos são como estrelas que riem...

(do meu livro Poetisa)

Retorno-me as cores!...

Rabisco papéis, esboço traços

No enlace do lápis que corre livre...

Um sorriso largo numa tela incolor!

Um desenho mágico! Uma saudade...

Um rostinho jovem – tão lindo!

Adorável menina há quem um dia

Deixei o soneto adormecer a rima...

Sempre a poetisa a me contar um segredo,

Algo novo que lhe contou a vida...

Sempre uma alegria, uma lembrança boa.

Felicidade que vive em meu peito

A suspirar baixinho um doce nome...

Sempre eterno este amor que lhe tenho

Sem compromisso, amor infinito!

De todos os amores o mais bonito.

A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS

Recordo-te como recordo as notas de uma canção...

E tu foste a oração do meu dia a dia

Foste a poesia na minha mesa junto ao pão...

E como são fugazes os anos, meu bem!

Ligeiros vagões em trilhos ferventes

A descarrilar-se em algum canto... – sabe lá onde!

Hoje, lembro-te como algo passado – com saudade.

Mas, ainda uma lembrança presente,

Um “sonho distante” que quisera ser lembrada...

Tu foste a mulher que me mostrou o amor

Mesmo que eu nunca compreendera

Tua enigmática maneira de me amar...

Hoje, te recordo ainda, felicitado!

E teu olhar, teus risos

Será sempre a oitava cor do arco-íris...

BREVIDADES

Nas brevidades da vida é que o amor conjuga

Eu amo-te na certeza de que tu me amas!

E esse amor em nós é feito de verdades.

Amo-te porque amo! – e é tudo isso.

Um amor que aproxima os relativos

Que nos dá a certeza de que somos reais!

Não importa os verões desérticos...

A vida é uma mistura entre sins e nãos.

O que importa são as primaveras que hão de vir...

Todas as manhãs eu abrirei minha janela

Na confiança de que também versejas – nalgum canto.

Um suspiro poético de amor e saudades...

SEMPRE POR PERTO

A serenidade que me beija a alma é teu sorriso

Sempre a girar a roldana e me trazer da fonte

A água que musifica minha vida...

Teus olhos são caminhos iluminados por onde

Percorro a realidade como é de ser...

E não a utopia dos velhos magos

Que nunca soube a verdadeira alquimia

De transformar tristezas em alegrias...

Mas tu, sempre por perto, mesmo que o oceano conteste,

Dizendo de si imensidade,

Sabe me conduzir a felicidade!...

FUGIR...

A fuga é inválida quando se tem o coração preso.

É preciso apagar os rastos antes de seguir adiante...

Desenlaçar-se

Desapegar-se

É uma questão de escolha retornar ou prosseguir...

É um ato de coragem arriscar no que é incerto.

É uma covardia, também, desistir no caminho...

É perder ou ganhar,

Não há empate.

COMO SE INCOMPLETO

Há um vazio em mim como se incompleto...

Olhos murchos como a flor cativa na redoma escura

Sem ar, sedenta, sem calor...

Meu Deus! Pergunto, como pode um poeta viver sem amor?

Os versos não podem ser de todo melancolia

Há de haver sorrisos, beijos, perfumes...

Não nasce alegria das cinzas – apenas tristezas.

Meu Deus! Quero dos olhos da moça a poesia

Que me escrevera no eterno livro... VIDA!

DOCE E FIEL

Eu quero me navegar no teu corpo como se no mar,

Beijar-te com arte no delírio de amar...

Quero ser envolto por suas ondas,

Aconchegado nos teus seios perfumados

– seios que me atiça o querer doidamente...

Doce canção que recordo ao violão

Vivo de contar as horas de tua chegada,

Minha doce e fiel namorada.

“OS POETAS SÃO RAROS”

Pensei que pudesse contar contigo de verdade

Que viesse comigo quando lhe desse a mão

A construir sonhos e realizar juntinhos...

Talvez não quisesse uma vida simples

Do lado de um homem de coração poeta.

Mas olhe,

Se quiseres voltar – se sentir saudade

Não se acanhe,

Estou a tua espera...

(não sei por quanto devo)

Como disse uma amiga: “os poetas são raros”.

UM TEMPO...

Você me pediu um tempo...

Faltou lhe perguntar qual a proporção deste tempo:

Se um tempo curto,

Um tempo longo

Ou,

Um tempo que talvez leve de nós a existência...

Estou a Ti esperar no cais da saudade com uma rosa à mão,

Os olhos enxovalhados e...

O coração triste.

E COMO RIAS

Convidativo era teu sorriso a embriagar-se

Embriagar-me

Embriaguei

Embriagado no sorriso que era teu

Que era meu

É meu

Pois de lembranças é que vivi a memória

A história

Ria

E como tu rias de um sorriso embriagante

E tu ris

Em riste

E eu não sei se consigo rir

Ir...

Pois,

Eras no teu sorriso que encontrava minha sorte.

FALANDO EM POESIA...

Escrever deve ser mais que facinação!

Deve ser um não dever

Um expressar

O coração.

O RELÓGIO TEMPO

Os dias estão correndo sem nós

Distanciando no espaço-tempo...

Há tanta coisa a compartilhar juntos!

O velho relógio no alto da catedral sem nome

Na ciranda dos ponteiros parece brincar

Com os nossos sonhos de amor... – perfeitos sonhos!

Meu coração traz um canto triste de saudade...

Fico a lembrar... No teu corpo quente

Quis beber em beijos

O perfume doce em tua pele nua... – completamente.

Te amo com intensidade!... És Ti minha ideal mulher!

Volta-me! E quebremos o relógio Tempo...

Pois, sem ponteiros nosso amor encontra eternidade!...

O Poeta Baiano
Enviado por O Poeta Baiano em 05/02/2018
Código do texto: T6246020
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