O JOGADOR
De volta ao jogo, eu me sinto criança,
Ansiosa pelo início da partida
De uma inquietação gástrica nutrida
Uma eletricidade nos pés que cansa
Os adultos - sempre pacientes -
Chatos, cheios de si e de várias razões
A minha alegria não é dependente
De modos, conchavos, convenções
Eu quero logo o brinquedo,
Rolar os dados desde cedo,
Colar figurinhas no álbum da vida,
E escorregar num tobogã de horas sortidas
De momentos em momentos
Içar-me como pássaro anelante
Perpassar lúdico pelo tempo
Passageiro de roda-gigante
Lá de cima vejo o espectro
De realidades simultâneas:
Personagem pouco épico
Dentre tantas miscelâneas
Menino, homem, infante...
Frequentemente, ele está confuso
Mas segue, errando, adiante
Pelos ventres da existência – difuso.
Mesmo sujeito de muitas facetas
Que nesse jogo mergulha
Travesso, dispara a fagulha
Escolhe um número da roleta
Antes boquiaberto do que nauseado
Antes apostador a dealer mecanizado
Eu ainda tenho um lance, talvez outras cartas.
Eu ainda tenho fogo, quiçá uma brasa!