Quem nunca sentiu saudade...
Quem nunca sentiu saudade...
Quem nunca sentiu saudade
de um aroma sedutor,
que afagava os sentidos
com cheiros, sabores e cor;
não experimentou, certamente,
o desvelo infantil
que investigava os insetos,
pedras, plantas e flor.
Quem nunca sentiu saudade
das histórias encantadas
que nos levavam a viver
façanhas inusitadas,
em que a coragem calava os medos
transformando-os em segredos;
jamais saberá o que é
subir cada degrau
da identidade e autonomia,
entoando cânticos,
suscitando os anjos e demônios da alegria.
Quem nunca se aventurou num triciclo
desafiando o chão
num gigantesco equilíbrio,
delineando as retas
em sinuosa excitação,
ralando os joelhos,
secando lágrimas,
engolindo choro,
ganhando ou perdendo o jogo;
não pode experimentar
a alegria que há em respirar,
pular, gritar, perder,ganhar,
distinguir vento de ventania,
tempestade de temporal,
granizo de chuva fria.
Só quem já sentiu saudades
das brincadeiras de casinha,
cantigas de roda,
esconde-esconde,
bambolê e pique-cola,
é que poderá entender
que toda criança precisa
viver o faz de conta,
correr, pular,
cantar, jogar bola,
com outras conviver,
a diferença respeitar,
limites se dar,
o respeito aprimorar,
para saudavelmente crescer.