__________________TRANSE
Via-se arrastada à chorosa campainha
(mas hoje o seu sangue é só ofensa).
(mas hoje o seu sangue é só ofensa).
É fazer-lhe guerra o sorriso em caricatura, a paz dosada de 8 em 8 horas, a disciplina militar em nome do Estado, alegoria em bandeiras ao governo,
É fazer-lhe guerra o rebanho conduzido pelos jesuítas, a comida requentada da doutrina e a prece fora de hora.
É fazer-lhe guerra o desfavor da primeira gargalhada
- infração contra o seu luto -,
a hipocrisia e o fanatismo.
É fazer-lhe guerra a cordialidade polida, o gosto pelo café amargo, a luz que lhe fere a retina
- seu olhos, filhos inocentes -
sossegados numa cabeça combalida.
É fazer-lhe guerra a imitação nos comentários
- carimbos inúteis em busca da visita -,
adestrados que gotejam mesmice.
Tal coisa pobre na aparência e outra na essência.
Não terão. Não esses.
É fazer-lhe guerra o popular na ostentação da ignorância,
funesto preço por quem compra a miséria.
É fazer-lhe guerra a falsa inquietação da ferida,
tão distante da legitimidade artística.
É fazer-lhe guerra o tumulto sossegado,
efeito,
francamente desfavorável.
Solicita-se aos escritores a entrega completa.
Poesia é excesso
que te fermenta as veias!
É fazer-lhe guerra os rasgos inflamados
mas arrebatados de superficialidades.
É fazer-lhe guerra a irrisão
- espécie de extensão do autor.
É fazer-lhe guerra a praça,
a gritaria das crianças,
o bêbado encostado ao balcão,
as promessas movediças
- sonoras em carros de som -,
os intrépidos errantes em meio ao trânsito.
É fazer-lhe guerra a bobagem deprovida de inteligência,
o ranço da manteiga e as correntes de fé indignas da memória.
É fazer-lhe guerra o tumulto dos rebeldes e a
paz esterelizando a desordem.
É fazer-lhe guerra o perdão não solicitado
enchendo os cantos dos ouvidos.
Portando,
antes de dilatar a palavra,
não lhe faça guerra.