A CHUVA
Poema de:
Flávio Cavalcante
I
A CHUVA COMEÇOU NOVAMENTE
OLHA O CHEIRO DE TERRA MOLHADA
ACHO QUE VOU APLAUDIR DE UMA SACADA
ISTO SE A SAUDADE NÃO FOR PERTINENTE
O CHEIRO DO CAFÉ TAMBÉM ESTÁ NO AR
TUDO PRA NÃO DEIXAR PRA DEPOIS
ESPERANDO CORAGEM PRA TE LIGAR
MOMENTO EXCLUSIVO PARA NÓS DOIS
II
A CHUVA PARECE TER DADO UM DESCANSO
TALVEZ PRA NOS BANHAR DE LOUVOR
TÁ TÃO GOSTOSO EMBAIXO DO COBERTOR
FEITO DE PLUMAS DE PENAS DE GANSO
ESTE MOMENTO ERA TUDO QUE EU QUERIA
SENTINDO O CHEIRO DA TERRA TODA MOLHADA
ESTA CHUVA TROUXE UM RECHEIO DE ALEGRIA
NO FINAL DESTA NOITE FRIA E ALAGADA
III
A CHUVA TROUXE EM PINGOS DE ÁGUAS CLARAS
TODA A PUREZA LÍMPIDA E A FORÇA DA AVIDEZ
LAVOU SUJEIRAS ENTRE ESPUMAS E PEROLAS RARAS
QUE FALTOU POR AQUI HÁ QUASE UM MÊS
AGORA O CHAFARIZ ESTÁ ESCANCARADO
PARA TODOS QUE QUEREM DESFRUTAR
VAMOS COMEMORAR COM UM BEIJO SELADO
ANTES QUE ELA DIGA UM ADEUS E SE VÁ
IV
AH! CHUVA QUE LAVOU TODA A IMPUDÊNCIA
E RESGATOU A HORA DE UM TAL DESPERDÍCIO
UM RECADO... A NATUREZA PEDE CLEMÊNCIA
E PERDÃO PARA O HOMEM E SEU RESQUÍCIO
SUAS FENDAS DE NATURAS VÊM DESTRUINDO
MINANDO EROSÃO SEM NEM PODER RECUPERAR
TRISTE VER O VENENO DA TERRA SURGINDO
PELO HOMEM QUE É BRUTO E AINDA NÃO SABE AMAR
V
NATUREZA MINHA MÃE PERDOA A INSANIDADE
MANDA A CHUVA PRA LAVAR A INCONSCIÊNCIA DEMENTE
A IRA DA ENXURRADA TRAZIDA PELA MALDADE
POR GANÂNCIA VINDA DE FONTE CRUEL E DOENTE
TRÁS NAS ÁGUAS UM CHICOTE DE BOM AÇOITE
AH, CHUVA QUE VENS DE BANDEJA SÓ PRA SERVIR
ARRASTA ESTES VERMES QUE PUTREFAZEM DIA E NOITE
PRA VER SE UM DIA ELES VALORIZEM O PORVIR