ANARQUIA INTERNA
I
Bombas!
destroem e derrubam
Bombas!
matam e explodem
Bombas!
despedaçam e dividem
Bombas!
exprimem e alteram
Bombas!
rodopiam e transformam
Bombas!
matam e criam
II
Entendo a vida como caminhar
em um campo minado
Acontecimentos são bombas metafísicas
cada passo cada pulo cada acaso
ocaso do começo mal clareado
Explosões internas
que dividem o que já era dividido
pulverizam alguns pedaços fracos inúteis
destroem estruturas-pensamentos e
invalidam atos atores alegres ou tristes
aniquilam o restante da esperança...
... da esperança e desfaz-se em lágrimas.
III
Em cada divisão surgem
novas personas infinitamente diferentes
incoerentes (in)existentes
sobreviventes de explosões
Fortes!
Inimaginavelmente fortes
se unem e se distanciam, observam
o mesmo ponto em observatórios rotatórios
racionais-lunáticos
E dão-se as mãos e brincam de roda
abarcam um espaço, um círculo
com mil olhos e mil ouvidos
mil sentidos prontos a perceber mil faces
do único espaço ocupado
Quanto mais bombas explodem
tanto mais aparecem
novas personas infinitamente diferentes
e vejo mais possibilidades
e vejo mais fogo, terra, água e ar
e há uma ganância de ver e de sentir e de ouvir
degustar cada imagem, cada som, cada cheiro
IV
Em cada época há um carro-chefe diferente
Que conduz o enterro com plena alegria
Que discursa e convence com maestria
Várias faces que compõem um ser concretamente
Em cada época calam-se vários passos
E esperam a hora certa para emergir
Para fazer chorar, sorrir e agredir
Fortalecer e merecer a conquista de mais espaços
Mas há de um dia se levantar
Uma face que lidera e partilha
Sem a voz de outros sufocar
E em paz juntos e vivos seguirem uma trilha
V
Mas o que se quer
e a função explosão
disjunção coesão
anunciada a partir
de todas as possibilidades
criadas no decorrer de ações imaginações
é o não a mortes e a solidão
mas a unificação específica
particularmente instituída
a ter a visão especial do espacial
sem Reis
e sim cada parte e cada parte
a cuidar do um todo.
Anarquia Interna!
10/01/2003