SEM EIRA NEM BEIRA

Não quero causar impressão
gosto de ser como sou
assim mesmo, desimportante
um livro de enfeite na estante.
Tenho o cérebro engomado
sou doido varrido, estabanado
cão sem dona, vil, desagregado
estou sempre aqui e acolá
compondo pra outro rasgar
sou um poetastro popular
adoro mambo, tango e forró
um churrasquinho de jabá
acho graça da desgraça
o velho blues perdeu a graça
quero voltar pro meu sertão
tomar porres de cachaça
ouvir Bob Dylan e Gonzagão
fazer um poema sem nexo
e guardá-lo no abandono
se os anjos não têm sexo
verso livre não tem dono.

Livro Antipoético
Editora Scortecci (2006)