ILUSÃO

ando por aí sem rumo

sopesando meu penar

e a miséria deste mundo

cortejando seus fantasmas

por entre mil caravanas

atravessando castelos

de areia tão branca, tão branca

que parece o nada mesmo

o nada infinito e simples

o nada em que nada seja

onde espontâneo melindre

de um ribeiro não serpenteia

onde verdíssimas folhas

não subtraem a luz, luz

débil, recente e tão nova

filtrada por comas invisíveis

que flutuam no ar; onde

um oásis vejo em miragem:

a ilha imersa, o sambaqui

pré-histórico que me cabe

donde venho de exumar

fósseis de estrelas extintas

vestígios de homens, de múmias

de corais de um mar que havia

João Lima

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