Um grito na noite!
Um grito na noite,
E lá fora nada há!
E deitado, lado a lado contigo,
Procuro em ti abrigo,
E tu em mim vem se alinhar!
Pela janela mal fechada,
Ante a luz meio pálida, um grito na noite!
E outra vez nada há!
Deitado, de novo, me aninho em teus braços,
Ante o aperto de seus abraços... Aconchego!
Subitamente, outro grito,
Desespero... Meu corpo cansado se levanta,
As mãos escancaram a porta,
As pernas correm soltas,
A rota corta a noite muito louca,
A boca meio seca, meio morta,
Nem nota o grito rouco que liberta,
A criança negra, então grita e então chora!
Olhos esbugalhados indicam a tragédia,
Corpos estremecem sob vermelho vivo, que jorra!
Vejo então donde veio o primeiro grito...
Do homem estendido á porta!
O outro, da mulher curvada sobre o marido!
Que noite, que desgraça...
A rota volta! Vozes ásperas cortam a noite negra,
E a criança chora, em meio ao rebuliço,
No cortiço em que morro, dia a dia sem esperança!