OLÀ MUNDO EU TE SAÚDO
Olá mundo velho, te saúdo,
daqui da terra do sol,
te saúdo das encostas gastas das montanhas
e terras das Minas Gerais
Onde o vento fez a curva e se perdeu nas veredas
Do planalto central
Saúdo-te das terras doídas de São Paulo
tomadas pela produção de massa, química e corrosiva
dos laranjais, canaviais e sesmarias
Saúdo-te daqui do sul do país, europeizado de vinhos
E carnes brancas de suas mulheres
Saúdo-te do sertão nordestino do Cariri
Aonde a chuva não chegou
Saúdo-te do alto do rio Amazonas
Majestoso e primitivo
Saúdo-te das matas imensas
Das florestas das chuvas
Pelas mãos das araras, do bugio e do macaco prego
Todos no corredor da extinção
Saudaria você com o miado assustador
da onça parda, se ela ainda existisse
Saúdo-te com o misticismo da Bahia
E com a sensualidade e curvas do Rio de Janeiro
Saúdo-te do alto do meu coração
Que canta amiúde as canções
Das árvores e plantas nativas
Saúdo-te pelos irmãos do outro lado do Atlântico
Sobretudo os terras do Douro
Do Alentejo que produzem vinhos e melancolias
Saúdo-te em nome do velho Portugal pequeno e imortal
Encravado no seio da eternidade
Que serpenteia a angustia de existir, com poesias e saudades
Saúdo-te pelo manto da cordialidade com que Portugal veste os povos
Saúdo-te mundo velho, com os olhos ansiosos dos povos do sul
Que trazem o cheiro do poncho molhado
E das carnes salgadas das campanhas
E tua estória embrulhada em papel fino
De lutas inglórias e orgulho ferido
Saúdo-te com o poder dos americanos do norte
Que não são mais americanos
Pois a América e tudo que é americano relaciona-se com pobreza e dor
Mas estes inventaram um novo lugar, muito rico que nem é a Aamerica
Pertence ao mundo e é capital do universo e por isso não são aceitos
Mas saúdo também, das linhas cartesianas de suas crenças
Saúdo-te pela Europa de finos perfumes, progresso material
Cultura evoluída e ranços coloniais imutáveis
Saúdo-te pela grande Ásia sem mais mistérios
Porque trocou o mistério pela objetividade
Os seus cantões das curas pelo crepitar das industrias
Saúdo pela pujança, da grande China e suas mazelas ecológicas
cujas muralhas caíram e revelaram um rosto medonho
Que tanto tememos
Saúdo-te pelo Japão milenar e suas gueixas sedosas e nobres
Saúdo-te com o orgulho do seu imperador que chefia o povo e o silencio e seu império tecnológico e sem cor
Saúdo-te mundo digital, analógico e anacrônico
Onde vivo e espalho poesias tortas
Saúdo o planeta todo que ainda resiste ao homem
E sua luta incessante por mais espaços
Saúdo a fé de Deus e sua paciência para redimir a humanidade
Saúdo a primavera dos trabalhadores humildes,
Saúdo o sol que banha este lado da terra
com tanta generosidade.