COMO NASCE POESIA
Estrelas nascem em berçários demolidos como os poetas,
de nuvens moleculares gigantes espalhadas pelo Cosmo.
Na vastidão oca do universo,
das próprias memórias,
nascem os poemas .
Na concentração de lembranças
suas e alheias, nascem poemas.
Na justaposição do vivido
e do inventado, nascem os poemas.
Sob a força da gravidade
que se faz presente,
tudo se comprime: a nuvem
perde suas partes
mais densas
e dos elementos amalgamados,
aos poucos,
um pedaço se desprende
ganhando densidade
e calor.
Então poeira e memória, estrela e poeta
giram
em torno, em si
tomam forma.
Sempre quase prontos, esférica estrela
um e outro é duplo retorno,
disco lácteo, a própria vida.
Mas tudo isso leva tempo,
no crisol forja da alma.
A encarnação do verbo se dá
quando temperatura e densidade
ficam tão altas que o inverso se revela
e os primeiros átomos de hidrogênio
fundem nobres composições de hélio.
No salto transcendente
o aglomerado que não existia
é rasto evidente de clara poesia.
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Baltazar Gonçalves