COMO NASCE POESIA

Estrelas nascem em berçários demolidos como os poetas,

de nuvens moleculares gigantes espalhadas pelo Cosmo.

Na vastidão oca do universo,

das próprias memórias,

nascem os poemas .

Na concentração de lembranças

suas e alheias, nascem poemas.

Na justaposição do vivido

e do inventado, nascem os poemas.

Sob a força da gravidade

que se faz presente,

tudo se comprime: a nuvem

perde suas partes

mais densas

e dos elementos amalgamados,

aos poucos,

um pedaço se desprende

ganhando densidade

e calor.

Então poeira e memória, estrela e poeta

giram

em torno, em si

tomam forma.

Sempre quase prontos, esférica estrela

um e outro é duplo retorno,

disco lácteo, a própria vida.

Mas tudo isso leva tempo,

no crisol forja da alma.

A encarnação do verbo se dá

quando temperatura e densidade

ficam tão altas que o inverso se revela

e os primeiros átomos de hidrogênio

fundem nobres composições de hélio.

No salto transcendente

o aglomerado que não existia

é rasto evidente de clara poesia.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 16/01/2018
Reeditado em 16/01/2018
Código do texto: T6227663
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