uma vida sem poesia

estou num círculo vicioso, num ciclo vicioso de tristeza

que parece aquele sexo gostoso, só que feito com o ex-namorado: bom, mas que traz arrependimento quando acaba...

(...) numa roda gigante que parece sufocante.

Ah, eu sei lá...

as vozes de antes não parecem afinadas no meu ouvido, ando meio surda, meio sem noção do que é ruído e do que é explosão

As meninas pequenas que passavam na rua já viraram mulheres e mães; eu envelheci junto com os meses de suas gravidezes.

sou uma velha nata, desde os cinco anos, que foi quando descobri que a vida dói mais do que arrancar o tampão do dedo

andei chutando pedras e o chão pra ver se arrancava os tampões dos dedos, mas nem saía sangue

resolvi escrever sobre a dor que é escrever um monte de palavras sem ter o mínimo de emoção

O que aconteceu com a voz, com a canção, com a expressão de alegria ao escrever tais palavras que, aos meus olhos grandes - e antes brilhantes - pareciam tão divinais, tão exclusivas e conclusivas?

Mais divinais que o alto céu onde dizem os pequenos humanos morar um senhor marmanjo chamado deus, inimigo do velho diabo.

Talvez essa seja a minha última poesia ou talvez a única...

talvez eu desista de escrever agora para não ter mais que sentir tanto e morrer logo sufocada dentro do meu eu que lacrimeja no canto do olho o seu pranto.

Thina Freitas
Enviado por Thina Freitas em 16/01/2018
Código do texto: T6227322
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