PERDIÇÃO

PERDIÇÃO

Começa a escrever a poesia

Que súbito perde a linha

Sai do papel e voa livre

Em meio a noite

Tentando preencher vazios

Que surgem sem sonhos

A mão desobedece

Quer viajar e sonhar

Mas onde estão os caminhos

As estradas, os atalhos

Cabe a ela descobrir

Em seu livre arbítrio

Ignorar conselhos e tendências

Deixar os versos escorrerem

Qual água de rios caudalosos

Que não se deixam dominar

Que superam as pedras

Mesmo as mais pontiagudas

E invadem o mar

Que as recebe doce

E as salga

Dando tempero ao caldo

E as acalma

Sabe que delas depende sua sobrevivência

E então tudo fica diferente

A liberdade vira calmaria

Ajusta-se ao gosto da maré

Alarga-se sem margens

Mas fica difusa

E não há volta

Seu papel está definido

Será sempre coadjuvante

Uma poesia perdida

Que foi iludida

A ser verdadeira e revolucionária

Mas diluiu-se na imensidão

De ondas e marés

Apenas fez espuma

Ares de importância

Tênues e fugidios

Gostaria tanto de voltar a seu papel

A suas linhas

E vender quem sabe

Alguma esperança e felicidade

Doce ilusão

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 15/01/2018
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