PERDIÇÃO
PERDIÇÃO
Começa a escrever a poesia
Que súbito perde a linha
Sai do papel e voa livre
Em meio a noite
Tentando preencher vazios
Que surgem sem sonhos
A mão desobedece
Quer viajar e sonhar
Mas onde estão os caminhos
As estradas, os atalhos
Cabe a ela descobrir
Em seu livre arbítrio
Ignorar conselhos e tendências
Deixar os versos escorrerem
Qual água de rios caudalosos
Que não se deixam dominar
Que superam as pedras
Mesmo as mais pontiagudas
E invadem o mar
Que as recebe doce
E as salga
Dando tempero ao caldo
E as acalma
Sabe que delas depende sua sobrevivência
E então tudo fica diferente
A liberdade vira calmaria
Ajusta-se ao gosto da maré
Alarga-se sem margens
Mas fica difusa
E não há volta
Seu papel está definido
Será sempre coadjuvante
Uma poesia perdida
Que foi iludida
A ser verdadeira e revolucionária
Mas diluiu-se na imensidão
De ondas e marés
Apenas fez espuma
Ares de importância
Tênues e fugidios
Gostaria tanto de voltar a seu papel
A suas linhas
E vender quem sabe
Alguma esperança e felicidade
Doce ilusão