Retrato escrito: uma menina e sua prima.
Aquilo era um quadro.
Aquilo era um quadro
Ou uma janela?
Eis uma menina
Ou uma boneca?
Eis uma foto
Em uma janela.
Onde você vê
Uma janela,
Alguém vê
A superfície
Tridimencional
Fotografada.
Onde você vê
Uma menina,
Alguém vê
O além da menina,
O além-moça:
A superfície rasa
Da menina dos olhos,
A menina,
Agora moça,
Interoculação.
Ela é você.
Onde você vê braços,
Ela vê o sentido tático.
A tradução perfeita
Da energia assistida
Até o cerebro.
Tua leitura, leitor,
É materia-prima.
Onde você vê o preto,
Alguém vê o branco.
Quando âmbas,
Colorido.
A menina chupando o dedo,
A infância chupada
Da inocência enxuta,
Vida chutada
Por um pé pequeno e frágil.
A inocência chupada,
Frutificada e aflorada.
Oculta-se a face da menina,
Percebe-se os braços nus
Carregando um corpo,
A menina.
E o tempo
Vai passando,
E a janela é foto.
Ainda se problematiza isso?
A janela está dentro do quadro
Ou é o quadro que está dentro da janela?
A menina se destaca,
A menina é rainha
Da foto,
Da janela, quero dizer.
E assim a infância nunca morre.
Perpetúa.