HOJE PROCUREI UM CAIS
Hoje procurei um cais.
Algo assim como um cais
-um caminho sobre a água,
erguido sobre uma estacaria.
Almejava castanhos de madeira
ondulando em aço líquido,
repetindo-se até se perderem,
difusos, numa bruma dourada,
que o sol expulsasse
vagarosamente.
Encontrei apenas uma estrada
vigiada a verde por bambus
que sussurravam silêncios,
admoestando gorgeios felizes
nos vôos restolhados dos passarinhos,
que viviam um outro tempo.
E perdi meus passos monótonos
numa paisagem cubista
atapetada de um granito
sem a imponência de outrora,
quando ganhava nomes exóticos
em escarpas,
nas montanhas sobre a cidade,
atraindo amores
e amantes...
Serviu-me bem, a velha estrada,
e nela matutei reverentemente
sobre as mesmas velhas perguntas
que faria se, em vez dela,
uma velha estacaria sobre as águas,
em tons castanhos de madeira
refletindo-se em aço líquido
e perdendo-se numa bruma dourada,
que o sol estivesse expulsando,
acolhesse em total indiferença
o som dos meus passos antigos,
áquela hora...
As respostas ás minhas perguntas,
deixei-as por lá,
margeando-me o futuro...
Agosto de 2007