Um poeta cuidando do trânsito
Puseram um poeta no meio da rua
Ele falava de coisas que ninguém via
Contava da menina que nunca se amua
Até para o poste sobrava apologia
Só porque a rua ele alumia
Contava da menina feia do mercado
Que do amor já havia desanimado
Nunca revelando que pensava em casamento
Mas que para casar já havia feito juramento
Foi ele quem disse que na rua tinha um bosque
E fez do bosque um céu, para botar nele um anjo
E que nele um menino tímido tocava banjo
Delatou que o dono da loja era um escroque
Chegava a ser, por vezes, pouco discreto
Mas só um pouco, deixava tudo incerto
Mas todas as revelações eram um livro aberto
Sabendo que no meio da rua havia um poeta
Brigava-se em versos, beijos dados em gorjeta
Qualquer emoção no meio rua ficava inquieta
E sentava-se de mãos dadas nas sarjetas