Um adeus sem ter dado

Mudam os ventos,

Mudam as suas direções,

Mudam as paisagens, e as sensações,

O passado fica e com ele os seus tesouros,

Algumas vezes... vai numa maré lenta, levando-os, deixando-os, as sombras aos poucos, até tomá-lo .. em seu todo, um possível adeus pra sempre

Um adeus que não foi dado,

Não houve preparação, foi um ato consumado, e pra mim.. inconsequente,

Mas a alma ilusão, da eternidade nos convence,

Pensamos que pra sempre serão,

E quando menos percebemos,

Ou quando finalmente vemos,

O passado já está longe,

E as saudades bem na fronte,

Pelo retrovisor, não tem mais como voltar atrás,

Não é incomum uma certa frieza,

Não é incomum que as circunstâncias, acabem tornando impossível, algo que sempre foi cabível,

Não se esqueçam,

Quem ri muito, quem parece muito infantil, irresistível,

Também pode ter,

O seu lado ranzinza, discutível,

Pode parecer mais consumista,

E quando se enjoa de ti,

Te joga na lata do lixo,

E você, que vira o passado, um objeto desprezível e usado,

Que troca o lado do disco,

Que vira saudades,

Que torna, para si mesmo, os seus risos perdidos,

Só que, para o infantil, você não é mais prioridade, não tem problema se você ir,

E se nunca mais voltar,

Não sei se é a memória que falta,

Se é a superfície que arrasa demais,

Se nela nunca se afoga, e que se machuca quando cai,

Que pode evaporar rápido, e esquentar os pés no chão seco,

Aquele lago muito raso, que um dia deixou os meus dedos molhados,

Sobram retratos, imagens e momentos,

Todos foram levados,

E lavados por dentro,

Nele, que sempre o tratou com tanto zelo,

Alguns abrigos podem ser temporários,

Podem ter um teto frágil, construído pra não durar,

A minha rotina foi quebrada, não mais poderei amar os que amei,

Sim, são animais de quatro patas,

Como você também é, e até mesmo um rei,

meu coração não vai mais chegar até eles que não mais chegarão até mim??

Os tinha em meu cotidiano de prata,

Em meus céus cinzas, quase sempre nublados,

E agora restou-me apenas o fim??

Imaginei-os pra sempre perto, comigo,

Mesmo em outra cidade, com o dono, até então um amigo,

Foi um adeus sem ter dado,

Os laços, abrupta, foram cortados,

Os caminhos, desencaminhados,

Agora ele para um, e eu para o outro lado,

Não fui eu quem terminou,

Nunca foi,

Não fui eu que prometeu amor de amigo, eterno,

Que reclamou certo dia, que os amigos mudam quando namoram, e ele estava certo,

Não fui que entrou em contradição,

Que não sente mais a falta,

Eu, que estou sempre sentindo faltas,

Incompleto o meu coração,

Para sempre ter mais um, que possa se abrir,

Para aquele que eu adotar como irmão,

Tirou-me, quase sem avisar,

Pensou que estava subentendido,

Pensou que eu iria concordar,

Aceito mas com um nó no peito,

Que não mais os verei,

Que talvez este seja um adeus,

Não tem jeito,

Um adeus determinado,

Um adeus sem ter dado,

E que eu nunca darei...