UMA LUTA
UMA LUTA
Golpes de direita
Golpes de esquerda
E segue a luta
O ringue é o espelho
O lutador luta consigo mesmo
A duras penas mantem-se em pé
O sangue escorre pela face
Coberta de hematomas
A luta é interrompida para avaliação médica e de sanidade
Os ferimentos não impedem a continuidade
Do combate
Impressionante a resistência do lutador
O rosto torna-se uma massa disforme
Sangue e suor homogenizam-se
Lágrimas ardem
Soa o gongo
Sete dias de descanso
O lutador no canto do espelho que serve de ringue pensa
Já foi assaltado inúmeras vezes
Mas a luta continua
Lá pelo assalto de nº 1983
A tentativa de um direto já fracassou
Mas a luta continua
Golpes se sucedem
Mas “no pasáran”
O assalto de nº 2018 acaba de começar
O lutador está exausto
Os 30 últimos assaltos foram duros
Mudanças de regras durante a contenda
Passaram a permitir chutes
Cotoveladas
E até golpes baixos
Ele pensa em desistir
Entregar-se e receber sua bolsa
Para manter a família
Mas depois de tanta luta é tão pouco
Tão vil
Tão Brasil
Resolve resistir mais um pouco
Quem sabe no assalto de nº 2019
Possa recuperar-se
Afinal o adversário também está entregando os pontos
Resolve
Lutará até o fim
Afinal depois de tanta luta
Quem sabe consiga enfim
Ganhar o título
Portar o cinturão
Olhar no espelho e sentir orgulho
De ter lutado e vencido
A si mesmo