GREGÓRIO DE MATOS - IRONIA E SACARMO -"QUEIXA-SE O POETA": análise e vocabulário
QUEIXA-SE O POETA EM QUE O MUNDO VAI ERRADO, E QUERENDO EMENDÁ-LO TEM POR EMPRESA DIFICULTOSA
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas
Do que anda só o engenho mais profundo.
Nâo é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir, que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo o mar de enganos
Ser louco cos demais, que ser sisudo.
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Vocabulário:
"Vá de volba": entenda-se: que o soneto vá além desse "valhas", isto é, dessas compensações que o poeta tem. (Amora).
"Consoantes": versos consoantes, que rimam a partir da sílaba tônica.
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Gregório de Matos e Guerra (Salvador possivelmente em 1636 - Recife 1695) Nasceu em uma família abastada de proprietários da administração colonial.
Estudou nos colégios jesuítas e, posteriormente, prossegue os estudos em Coimbra, sendo graduado em Cânones (como se chamava o estudo de Teologia na época).
É considerado o maior poeta barroco do Brasil.
Por seu estilo satírico e ousadia por criticar a Igreja Católica, ficou conhecido por Boca do Inferno ou Boca de Brasa.
http://www.colegioequipe.com.br/carangola/wp-content/uploads/sites/7/Poesia-l%C3%ADrica-e-sat%C3%ADrica-Greg%C3%B3rio-de-Matos.pdf
Este é um poema que corresponde a fase satírico do poeta barroco Gregório de Matos Guerra.
Nota-se que o poeta desfere o seu mau-humor contra os ignorantes, seus desafetos, afeitos à maledicência.
O poeta se coloca como exemplo de virtudes, entrando no “rol das bestas” o restante da sociedade para fazer frente aos ataques de seus detratores, o poeta dispõe de elementos imbatíveis: as palavras, seus sonetos que “tem terríveis consoantes”.
Tanto neste poema, quanto em vários outros, a força expressiva da poesia é vista como elemento de combate contra os vícios sociais;
a arte, moralizadora e engajada, recupera o antigo preceito teatral segundo à risca por Gil Vicente e, aqui, por Gregório de Matos: rindo, castiga os costumes.