UM CLIPE

UM CLIPE

Lá está ela

Na favela

Tão brasileira

Que se espraia

Fora da praia

Onde o bronze

Com isolante

Faz fita marcante

Marcados todos

Pelos engodos

Que a vida apresenta

E orienta ou desorienta

Num funk sem samba

Na bunda bamba

Na carne que abunda

Na cabeça que afunda

Na barafunda

E surgem os críticos

Os íntegros

Os míticos

Os místicos

Os milicos

A grita dos sem vozes

Dos atrozes

Que se mostram

Que chocam

Aos incautos

Aos cegos de vida

Que só veem

A exuberância das carnes

Esquecem-se dos corações

E invejam a grana

De quem não é bacana

Que lhe dá banana

Ignorando a quem o ofende

E mostra nossa cara

De peitos e pernas abertas

De traseiros balançando

Defecando e incomodando

Aos que se julgam melhores

Que no fundo bem fundo

Gostariam de deixar a pele

Marcada pela fita

A fazer fita

Em praias elegantes

Entre traficantes

Sem Anittas

Gostosas e bonitas

Recebendo visitas

De tantos parasitas

Fantasiados de vestais

Que não passam de marginais

Acoitados pelos capas pretas

Símbolos maiores de nossa

Extrema desigualdade

E desdém por gente

A não ser os de sua facção

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 31/12/2017
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